Apartheid – o grande legado holandês na África do Sul

Colunista: Zulu Araújo

O Apartheid é considerado o regime de segregação racial mais cruel e brutal que a Europa produziu em todos os tempos. Esse regime foi vigente na África do Sul por quase cinco décadas, de 1948 a 1994 e foi responsável pela tortura, morte e prisão de milhões de sul africanos, e contou com o apoio de praticamente todas as potências ocidentais.

Foi implantado logo após a segunda guerra mundial, momento em que o Ocidente afirmava aos quatro ventos que havia derrotado o regime nazista e que os direitos humanos, dali pra frente, seriam rigorosamente respeitados. Aliás, esse discurso serviu, por exemplo, para instalar em território palestino o Estado de Israel, como forma de reparação aos danos sofridos do holocausto.

O curioso, para não dizer trágico, é que ao mesmo tempo que a Europa propagandeava as benesses da democracia e dos direitos humanos no mundo ocidental, fechou os olhos a esse crime de lesa humanidade que era cometido no continente africano.

O regime do Apartheid não apenas discriminava os nativos africanos, assim como todos aqueles que não fossem brancos. Para tanto criou uma série de leis que privilegiava a população branca a exemplo do acesso a saúde, a educação e até mesmo ao direito de ir vir.

A criação desse regime de terror foi obra do partido da extrema direita – Partido Nacionalista Afrikaner, criado pelos descendentes de holandeses (Boers), calvinistas, que criaram uma língua própria na região – o africâner (mistura do holandês com línguas nativas como o bantu, o xossa e o sesoto). 

O primeiro líder desse regime foi Luiz Botha, que assumiu o poder na África do Sul em 1910, após uma guerra com os ingleses, conhecida como a Guerra dos Boers.

No regime do apartheid foram criadas quatro raças no país (brancos, negros, mestiços e asiáticos), além de uma extensa e complexa legislação que tinha como objetivo único discriminar e segregar a população negra. Estima-se que 300 leis segregacionistas foram criadas no período.

Detalhe importante: a população sul africana era de aproximadamente 59 milhões de pessoas sendo que, 80,9% era de negros, 8,8% de mestiços, 7,8% de brancos e 2,5% de indianos.

Apesar desse número eloquente de negros, eles não possuíam o direito a voto, de residir nas cidades (viviam em bantustões, nos arredores das cidades, que era uma espécie de campos de concentração) e para circular eram obrigados a fazer uso de um “passe”.

Por conta de uma manifestação contestando essa “Lei do passe”, realizada na cidade Shaperville, no dia 21 de março de 1960, ocorreu um dos maiores massacres no regime do apartheid.  A polícia sul-africana assassinou 69 jovens e crianças, deixando mais de 200 feridos.

Essa repressão foi tão violenta que ficou conhecida como o “Massacre de Shaperville” e em homenagem à luta daqueles jovens foi criado pela ONU – O Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial que é celebrado no mundo inteiro.

Importante registrar que é do combate a esse regime nefasto, criado pelos holandeses, que surgiu a maior liderança africana de todos os tempos – Nelson Mandela.

Mandela, juntamente com seus companheiros do Congresso Nacional Africano (ANC), Walter Sisulo e Oliver Tambo, fundou, em 1944, a “Liga Jovem do Congresso Nacional Africano (CNA) ”, que veio a se tornar no principal instrumento de representação política e de resistência dos negros sul-africanos ao regime do apartheid.

Mandela foi preso em regime fechado durante 27 anos, realizou trabalhos forçados na prisão e quando de lá saiu, após um movimento mundial, veio a ser o primeiro Presidente negro da África do Sul e extinguiu o regime do apartheid.   

Mas, apesar de toda sua crueldade, violência e discriminação o regime do apartheid contou com o apoio das principais potências mundiais a exemplo dos Estados Unidos e toda a Europa, revelando mais uma vez que o lema de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, era apenas para alguns, preferencialmente brancos, cristãos e de origem europeia.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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