Após acusação de racismo, Itaú Unibanco fala com exclusividade a revista RAÇA

A notícia caiu como uma bomba nas redes sociais na última semana: O Itaú-Unibanco, maior banco privado do país não contemplaria a composição étnico-racial brasileira em seu maior programa de ingresso ao banco. O vídeo em que o presidente Candido Botelho Bracher reforça o compromisso do Itaú-Unibanco com a inclusão racial, nos quadros funcionais contrapunha as imagens de seu programa de trainee, principal porta de acesso dos trabalhadores ao banco. Assim que chegaram até nós as denúncias, procuramos a direção do banco para que pudesse prestar esclarecimentos. A posição do banco você vai ver nesta entrevista exclusiva concedida ao diretor executivo da revista RAÇA, Mauricio Pestana

Recentemente circularam pelas redes sociais imagens que colocam em xeque o programa de ações afirmativas que o Banco Itaú desenvolve. O que os senhores (as) têm a dizer a respeito?

R: O Itaú Unibanco tem a diversidade como um de seus principais valores, pois faz parte da nossa história, que foi construída a partir da união de bancos e da soma de pessoas de origens e culturas diversas. Sabemos da importância de ter uma equipe diversa, pois, além de ser um compromisso ético com a sociedade, a diversidade garante que sejamos capazes de entender e atender da forma mais adequada todos os nossos clientes e demais públicos com os quais nos relacionamos. Desta forma, há alguns anos temos realizado uma série de iniciativas para promover o ambiente de trabalho mais diverso possível, mas sabemos que ainda temos muito a evoluir, e este não é um desafio apenas para nós. Temos sido bem sucedidos em diversas iniciativas que implementamos, especialmente nos últimos 2 anos, elevando a participação de colaboradores negros em todos os níveis e áreas do banco. O processo seletivo para o programa de trainees é apenas uma das nossas iniciativas e, neste caso, sabemos que o resultado alcançado não foi satisfatório. Ficamos frustrados com isso, mas ao mesmo tempo sabemos que a busca pela igualdade de oportunidades é uma jornada contínua e que ainda temos um longo caminho pela frente. Nos manteremos comprometidos e em constante aprendizado em relação a este tema.

A foto do post é muito nítida. A presença de pretos e pardos não condiz com a população brasileira de 54%. Como é realizado o processo de trainee no Itaú Unibanco e como a questão de acesso de negros (as) tem sido trabalhada pelo banco?

R: O programa de trainee de 2020 contou com um processo de seleção totalmente acessível, algo inédito no mercado. Também retiramos filtros como o domínio do inglês, especificações de cursos e de universidades, além de termos atuado para mitigar possíveis vieses inconscientes de nossos gestores. Neste ano, tivemos entre os 125 trainees aprovados equilíbrio entre homens e mulheres, além de pessoas com deficiência e autodeclaradas negras. Reconhecemos que as melhorias que fizemos ainda não nos levaram a um resultado satisfatório, e o processo deste ano nos ajudará a fazer correções para que sejamos mais bem sucedidos nos próximos.

O que os senhores diriam para os milhões de negros(as) que não se sentiram representados naquele post?

R: Reconhecemos que o resultado do processo de seleção de trainees deste ano, mesmo com as mudanças que fizemos para torná-lo mais inclusivo, não reflete a diversidade que todos nós gostaríamos de ver. A experiência deste ano servirá de aprendizado para fazermos correções para os próximos processos.

Existem metas, prazos a se cumprir nas áreas de diversidade e inclusão do Itaú Unibanco?

R: Para superarmos as desigualdades entre brancos e negros, é necessário encarar o desafio de forma séria e estrutural, mobilizando empresas, poder público e sociedade civil. Por isso acreditamos nos compromissos formais e na participação de fóruns de discussão, grupos de trabalho e outras iniciativas que contribuam para a criação e a promoção de conteúdo capazes de impulsionar políticas, práticas e ações mais inclusivas. No Itaú, temos desenvolvido diversas iniciativas, interna e externamente, voltadas para a questão da diversidade racial. Do ponto de vista de gestão de pessoas, nossos esforços estão concentrados em quatro frentes de trabalho: atratividade do banco e revisão de processos de seleção; qualificação de potenciais candidatos; desenvolvimento de colaboradores negros; e sensibilização de equipes, gestores, recrutadores e áreas internas.

Quais outros ações vocês poderiam citar que possam mudar este quadro?

Além das nossas inciativas internas em prol da diversidade, somos signatários de três pactos importantes, em que desenvolvemos ações em parceria com outras empresas e entidades. São eles: Pró-Equidade de Gênero e Raça – Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, assinado em 2016; Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial – Signatários (representantes da sociedade civil, ambiente empresarial e poder público), também assinado em 2016; e Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero – Instituto Ethos e CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), assinado em 2017.

Também direcionamos o nosso investimento social privado para potencializar projetos capazes de estabelecer marcos e diretrizes para políticas públicas mais efetivas para a inclusão racial. Além do impacto positivo sobre cada um dos beneficiários individualmente, o apoio a essas iniciativas estabelece boas práticas, indicadores, marcos institucionais que permitem a replicação de metodologia capazes de efetivamente transformar a sociedade em que vivemos. Nossos investimentos estão divididos em 3 grandes blocos de atuação: Educação, Empregabilidade e Geração de Renda.

Muito além do processo interno de inclusão que toda empresa socialmente responsável deve ter, existe também a sua relação externa com fornecedores, terceirizados, comunidade, clientes e instituições. Vocês desenvolvem trabalhos com a comunidade negra?

R: Sim, conforme a questão anterior, nossos investimentos estão divididos em 3 blocos de atuação: Educação, Empregabilidade e Geração de Renda. Essas frentes de atuação abrangem iniciativas que também impactam positivamente diversos públicos externos e instituições parceiras.

Quais são os maiores obstáculos encontrados por vocês na área da diversidade no quesito inclusão de negros (as)?

R: O principal obstáculo é sem dúvida o racismo estrutural existente em nossa sociedade, que cria barreiras visíveis e invisíveis que dificultam a entrada no mercado de trabalho e o encarreiramento de profissionais negros. Por esta razão uma das principais frentes de atuação do banco é trabalhar os vieses inconscientes e identificar essas barreiras. Nesse sentido, é fundamental a parceria com os grupos de afinidade e coletivos, que têm maior capacidade e legitimidade para nos ajudar a fazer esse diagnóstico e propor planos de ação.

Vocês têm ideia do percentual de clientes negros(as) correntistas do banco?

R: O banco não tem essa informação dos clientes.

Após esse post haverá uma revisão do programa de trainee do Itaú Unibanco?

R: Vamos aproveitar a experiência deste ano para fazer ajustes no programa, de forma que ele seja cada vez mais inclusivo e nos traga a diversidade que buscamos.

Que lições vocês tirariam deste episódio em que todo o programa de ações afirmativas do banco foi colocado em xeque?

R: Conforme respondido na primeira questão, temos realizado uma série de iniciativas com foco em diversidade, muitas delas bem sucedidas e que aumentaram a participação dos colaboradores negros em todos os níveis e áreas do banco. No caso do programa de trainees, o aprendizado é que, para termos a diversidade que buscamos, teremos de realizar ajustes ainda mais profundos no processo seletivo. E essa experiência servirá para melhorarmos esse e outros processos de seleção dentro do banco.

 

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