Ariel negra causa polêmica entre os fãs de ‘A pequena sereia’
A jovem cantora Halle Bailey protagonizará filme que será rodado em 2020. Admiradores questionam a escolha, alegando que a princesa da Disney é branca de cabelos ruivos
Em 1837, o dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875) escreveu o conto sobre uma jovem sereia que sonhava em abandonar a vida nos mares e se tornar humana. Chamava-se Sereiazinha e havia poucas informações sobre suas características físicas, a não ser que tinha “a pele clara e delicada como uma pétala de rosa”.
Fato é que a pequena sereia ruiva da Disney ficou no imaginário dos fãs. Na semana passada, o estúdio anunciou a intérprete de Ariel no longa em formato live-action, cujas filmagens começarão em 2020. A escolha da norte-americana Halle Bailey, atriz e cantora de 19 anos, causou polêmica. Motivo: a jovem é negra. Pela segunda vez, uma afrodescendente interpretará uma princesa da Disney. Em 1997, Brandy Norwood fez o papel de Cinderela no longa que tinha Whitney Houston como fada madrinha e Whoopi Goldberg como rainha.
Durante três dias, a polêmica sobre Ariel permaneceu na lista dos temas mais comentados do Twitter mundial. “Só falta colocar uma atriz loira para interpretar a Tiana de a Princesa e o sapo, que é negra, ou uma ruiva para fazer a Pocahontas”, queixou-se uma internauta.
“Sereias não existem, são seres mitológicos. Tanto faz ser negra, ruiva, branca, rosa ou azul. Sem contar que o ponto mais importante da Ariel é sua belíssima voz, e isso Halle tem”, destacou outra. “Ariel era a branca de cabelo vermelho que conquistou os corações de milhões de crianças em todo o mundo. Elas esperariam que ela fosse a mesma no filme live-action. Não entendo a decisão da escalação”, lamentou um fã. “O racismo se destacou em vocês quando Halle Bailey foi escalada como Ariel. Sereias são criaturas míticas. Quem te disse que elas eram apenas brancas?”, reagiu outro.
A atriz e cantora mineira Raíssa Alves interpreta Ariel há quase 10 anos na montagem da Cyntilante Produções, de Belo Horizonte. Ela afirma que o assunto é delicado. “É natural uma decepção e até certa frustração de quem é muito fã, até porque foi a própria Disney que criou a versão da Ariel ruiva. Mas, ao mesmo tempo, se há alguma produção em que seja possível focar na questão da representatividade, é justamente A pequena sereia. Ser mitológico, essa personagem não tem etnia ou raça bem definida”, observa.
DISNEY
Fernando Bustamante, diretor artístico da Cyntilante Produções, conta que se baseou na versão da Disney para criar a peça, em cartaz há 19 anos. Hans Christian Andersen, lembra ele, não deu detalhes sobre a sereia. “No começo, a atriz pintava o cabelo de ruivo, mas por questão de custos e logística, decidimos comprar uma peruca. Acabou sendo assim até a nossa Ariel mais recente, a Raíssa”, explica.
RACISMO
A atriz Andrea Rodrigues, integrante do Grupo Espaço Preto, da Cia. Bando e do Coletivo Segunda Preta, classifica como racista a reação de quem é contra a escolha de Halle Bailey para o papel. “Estão questionando a etnia de um ser que não existe, de uma figura mitológica. Se isso não é racismo, não sei mais o que é. As pessoas têm muita dificuldade de se assumir como racistas e negam a nossa própria história. Halle é atriz e cantora talentosa, com uma voz linda. Tem todos os requisitos para o papel”, ressalta Andrea.