Arte, Cultura e Negritude na Gestão Federal

“Existe uma história da África sem o Brasil, mas não existe uma história do Brasil sem a África” – Januário Garcia.

Visitar o Ministério da Cultura do Brasil, um espaço que só conheci anteriormente quando o ministro era negro, como Gilberto Gil, teve um significado profundo para mim. A presença de negros em posições de poder, seja como visitantes ou gestores, ainda é rara no Brasil do século 21, e para mulheres negras os desafios são ainda maiores. Séculos de exclusão estão sendo enfrentados agora, em pleno século 21, por governos democráticos.

Minha chegada ao ministério foi marcada por um acolhimento caloroso. Encontrei João Jorge, ex-presidente do Olodum e atual presidente da Fundação Cultural Palmares, que me acompanhou até a sala da ministra Margareth Menezes. Ela me recebeu para uma entrevista cheia de significado.

Conversar sobre cultura com alguém que é uma representação viva e abrangente desse conceito não é tarefa fácil. Além de ser cantora, gestora cultural e envolvida no audiovisual, Margareth Menezes também é escritora e ativista cultural. Ela está enfrentando 2023 como um grande desafio: reconstruir o Ministério da Cultura do Brasil. Perguntei à ministra sobre a situação atual.

*Ministra, como a senhora avalia esses primeiros seis meses?*

O ministério estava em ruínas quando chegamos, com servidores desvalorizados e uma compreensão limitada da importância estratégica da cultura. A área da cultura representa 3% do PIB do Brasil, gerando milhões de empregos e impactando significativamente a recuperação econômica. Os programas estruturados nesses seis meses destacam-se pela conexão com a diversidade. Um exemplo é a Lei Paulo Gustavo: este ano investiremos R$ 1 bilhão no Fundo Nacional de Cultura e R$ 2,8 bilhões no Fundo Setorial do Audiovisual. A lei agora garante que estados e municípios desempenhem um papel crucial na produção cultural e exige que pelo menos 20% das vagas sejam destinadas a pessoas negras e 10% a indígenas.

*E em relação à diversidade, o que mais a senhora destacaria?*

O edital Carolina Maria de Jesus é um marco. É o maior edital para mulheres do país, homenageando a escritora negra Carolina Maria de Jesus. Serão premiadas 40 obras inéditas, com um total de R$ 2 milhões, e um enfoque especial em mulheres negras, indígenas, com deficiência, quilombolas e ciganas. Além disso, lançamos o edital Ruth de Souza, que investirá R$ 20 milhões em longas-metragens dirigidos por mulheres estreantes, com pelo menos metade dos projetos sendo de diretoras negras ou indígenas.

*Há preocupações específicas sobre a cultura afro que a senhora vê como desafios atuais?*

Uma grande preocupação é a crescente intolerância religiosa, especialmente contra as religiões de matriz africana. Nosso país sempre foi conhecido por sua riqueza cultural negra, e a intolerância atual é alarmante. É crucial enfrentar esse problema com seriedade para proteger e valorizar nossa diversidade cultural.

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