Quando vejo a progressão de atrizes e atores negros na TV, lembro-me das palavras de um grande amigo que já está no andar de cima, Antônio Pompeu, que protagonizou Zumbi nos anos 80. Ele dizia que atores negros não recebiam cartas de elogio pelo seu trabalho com a mesma intensidade que os atores brancos. Essa frase ecoa em minha mente como um lembrete doloroso da falta de reconhecimento que muitos artistas negros enfrentam inclusive dos seus.
Zezé Motta, uma lenda da atuação brasileira, também sofria com a mesma solidão. Mesmo sendo uma artista de talento inegável, ela enfrentou críticas racistas e manifestações negativas pelo seu trabalho, quando fez par com o galã branco Marcos Paulo, na mesma época. Analisando agora, ao final de Vale Tudo, percebo que essa “solidão do ator negro” ainda persiste. Taís Araújo, uma atriz incrível, recebeu talvez mais críticas do que elogios pelo seu papel de Raquel. Bela Campos, por sua vez, foi perseverante e pagou o preço por sua arte, mas quanto dos nossos elogios recebeu?
Hoje, temos um casal preto na novela das sete, protagonizada por Clara Moneke e Juan Paiva. Eles estão redefinindo a TV brasileira, trazendo uma nova representação para as telas, um casal preto retinto. Mas quem está notando? Quantas cartas e e-mails de elogio estão chegando para eles? Quantas pessoas estão celebrando esse momento tão suado e especial da TV brasileira?
A falta de reconhecimento e apoio aos artistas negros é um problema sistêmico, que precisa ser abordado, e uma extensão do racismo da sociedade brasileira. O momento é de celebrar e apoiar os artistas negros, não apenas por sua arte, mas por sua existência e resistência. A arte tem o poder de transformar e humanizar. Ela pode nos fazer ver o mundo de uma perspectiva diferente e nos lembrar da nossa humanidade compartilhada. Mas para que isso aconteça, é preciso que os artistas sejam ouvidos e celebrados.
Então, vamos nos perguntar: estamos fazendo o suficiente para apoiar e celebrar os artistas e esse momento? Estamos enviando cartas de elogios e reconhecimento, para aqueles que estão alargando caminho e quebrando barreiras? Ou estamos apenas assistindo e esperando que alguém mais faça?
Essa publicação é fruto de uma parceria especial entre a Revista Raça Brasil e o Fórum Brasil Diverso, evento realizado pela Revista Raça Brasil nos dias 10 e 11 de novembro, que celebra a diversidade, a cultura e a potência da música negra brasileira. Não perca a oportunidade de participar desse encontro transformador — inscreva-se já www.forumbrasildiverso.org