As eleições do nada de novo

POR: MAURÍCIO PESTANA – CNN

Apesar de toda a discussão sobre a representatividade negra nos cargos de decisão, parece que essa pauta permanece longe do debate político atual

Apenas a duas semanas das eleições brasileiras, podemos avaliar as expectativas deste processo que desde o começo da disputa foi polarizado entre as candidaturas de Jair Messias Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. 

Quando teve início, tínhamos a esperança, por conta de o debate racial hoje na sociedade brasileira e no mundo estar mais acirrado, de que teríamos, consequentemente, este debate no processo político. Afinal, as Américas da atualidade são diferentes de quatro anos atrás. Temos três mulheres negras na vice-presidência — casos dos Estados Unidos, Costa Rica e Colômbia –, e ações internas como uma maior participação no fundo eleitoral de candidaturas negras poderiam levar a questão para o debate, mas nada de novo em terras tupiniquins. 

O maior país negro fora da África, com uma população de cerca de 120 milhões de habitantes que se autodeclaram pretas e pardas, pelo que tudo indica, continuará como sempre; com quase nenhuma representatividade no Legislativo e no Executivo jogando esse problema para debaixo do tapete ou se escondendo atrás de slogans feitos para justificar o injustificável, como o tal “racismo estrutural”. 

Chega a espantar, por exemplo, o fato de adversários do atual presidente não terem questionado o porquê de, em quatro anos, o senhor Jair não ter tido sequer um ministro negro como seu auxiliar, a não ser uma tentativa frustrada para a pasta da Cultura. 

Temos a impressão de que esse questionamento não é realizado pelo simples fato de que, independentemente do resultado final deste pleito, não há segurança nenhuma que esse quadro mude radicalmente de patamar, tendo como base a cara e a cor das próprias chapas que concorrem à Presidência da República, ou seja, nestas eleições, apesar de toda a discussão que paira sobre a representatividade negra nos cargos de decisão, parece que essa pauta segue longe do debate político da atualidade. 

Mas há uma esperança no ar. Ela vem exatamente de dois fatores antagônicos: enquanto aumenta o descrédito na política e nos políticos tradicionais, forças políticas da base da sociedade emergem em diversas frentes, candidaturas coletivas proliferam em alguns partidos e geralmente com mulheres e negros como protagonistas, organizações de empreendedores e executivos negros e diversos outros coletivos, que têm na pauta racial um de seus eixos, têm estado cada vez mais presentes nas discussões políticas. E este é um movimento irreversível que, inelutavelmente, a médio e longo prazo, irá pressionar por mudanças nesse quadro vexatório da representação política negra. 

Isso tudo pensando a médio e longo prazo, pois, pelo que tudo indica, não só nas eleições que ocorrerão daqui a duas semanas, mas no processo político que se avista após o pleito de 2 de outubro, vamos continuar sendo o mais do mesmo.

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