As mulheres negras na revolução haitiana – Parte 2
Por: Carlos Machado
Apesar da revolução do Haiti ter sido uma revolução composta por homens e mulheres, em conjunto, a história “apagou” as mesmas, que em grande medida foram tão importantes como Toussaint e Dessalines e tiveram um papel fundamental na revolução desde seu inicio, mas, quem foram essas mulheres? A Revolução Haitiana foi instigada pelos africanos na tentativa de não apenas se libertar, mas de remover completamente os franceses da ilha. Os rebeldes usaram uma variedade de táticas para atingir esse objetivo; as mulheres participaram de todos os níveis da revolta.
Existiu o movimento de mulheres envenenadoras, que ao alimentar seus senhores os intoxicaram e possibilitava a fuga de outros escravizados. A prática espiritual do vodu foi uma ferramenta da liberdade. As mambos facilitaram a organização do movimento de libertação. As mambos também conheciam remédios de ervas e venenos, que foram armados e usados contra escravocratas. A mambo mais famosa foi Cécile Fatiman do culto aos Lwa ou Loa, mais conhecido como voduns. Cécile ao lado de Dutty Boukman foi responsável pela cerimônia mais importante do vodou na história do Haiti, que foi a Bwa Kayiman ou Bois Caiman (crioulo haitiano Bwa Kayiman: “Floresta de Jacarés”) em 14 de agosto de 1791, na qual todas as pessoas presentes se comprometeram com a luta pela liberdade.
A ampla participação das mulheres em combate se deve às tradições africanas de que as mulheres foram ativas como Amina governante do Império Haussá no Níger, Rainha Nzinga de Ndongo e Matamba, Esigie uma Obá do Benin e sua mãe Idia, as guerreiras Mino (Nossas Mães) do povo Fon do Daomé e a Rainha Hangbe do Daomé.
Em 1793 Suzanne Sanité Bélair, descrita como a Tigresa da Revolução era uma afranchi (nascida livre) que participou ativamente na luta contra a escravidão, serviu ao exército de Toussaint L’Ouverture como sargento e devido a suas habilidades e conquistas tornou-se tenente. Infelizmente Bélair foi capturada pelos franceses e em 5 de outubro de 1802 é condenada à morte por decapitação. É tida como uma Heroína da Revolução Haitiana e em 2004, apareceu na nota de 10 gourdes, para a série comemorativa do Bicentenário do Haiti e é a única mulher nas cédulas do país.
Marie-Jeanne Lamartiniére, por exemplo, serviu no exército de Toussaint L’Ouverture. Ela liderou as forças insurgentes na famosa Batalha de Crête-à-Pierrot que ocorreu de 4 a 24 de março de 1802 onde combateram o exército francês que contava com mais de 12.000 homens. Ela é tida como mais uma heroína da Revolução Haitiana, e é homenageada num selo postal do ano de 1954 nos 150 anos da independência com
seu marido Louis Daure Lamartinière. “O conquistador escreve a história de que eles vieram, conquistaram e escreveram. Você não pode esperar que as pessoas que vieram nos invadir digam a verdade sobre nós.” Miriam Makeba cantora e ativista anti-apartheid sul-africana (1932-2008).