Atlas da Violência aponta que mulheres negras e pardas tem mais probabilidade de serem mortas do que outras etnias
Entre 2012 e 2022, um total de 48.289 mulheres foram vítimas de homicídio no Brasil, conforme dados do Atlas da Violência, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No último ano analisado, mais de 3,8 mil assassinatos foram registrados pelo sistema de saúde. Dentro desse cenário, as mulheres negras foram as mais afetadas, representando 66,4% das vítimas.
Em números absolutos, 2.526 mulheres pretas ou pardas foram assassinadas em 2022, evidenciando que essa parcela da população teve 1,7 vezes mais chances de ser morta em comparação com mulheres não negras — brancas, indígenas e amarelas.
Durante a década analisada, houve uma queda nas taxas de homicídio, com reduções de 25,0% para mulheres negras e 24,2% para não negras. No entanto, na variação interanual, o percentual de homicídios de mulheres negras registrou um leve declínio de 2,3%, enquanto para mulheres não negras houve um aumento de 4,2%.
A disparidade racial nos casos de homicídio ainda persiste, especialmente nos estados do Nordeste, onde a probabilidade de uma mulher negra ser vítima de homicídio é pelo menos duas vezes maior do que a de uma mulher não negra. Em Alagoas, por exemplo, essa probabilidade chega a ser 7,1 vezes maior.
O estudo destacou que a maior vitimização de mulheres negras no Brasil está ligada ao racismo estrutural e institucional, além da falta de políticas específicas de proteção para esse grupo. Esses fatores são fundamentais para compreender os altos índices de violência enfrentados por mulheres negras, que frequentemente estão mais expostas a fatores geradores de violência do que mulheres não negras.
Outro dado alarmante é que 34,5% dos homicídios de mulheres ocorreram dentro de domicílios em 2022, indicando que o lar é o principal local de ocorrência desse tipo de crime. Esse percentual se assemelha à proporção de feminicídios identificados pelas polícias brasileiras, que foi de 36,6% no mesmo período.
Em relação aos homicídios no país como um todo, o Atlas da Violência aponta certa estabilidade desde 2019, com 46,4 mil assassinatos oficialmente registrados em 2022. Considerando os homicídios estimados, que incluem mortes violentas de causa indeterminada, o número chega a 52,3 mil. Isso significa que, em média, aproximadamente 143 pessoas foram assassinadas por dia no Brasil ao longo desse ano.
Esses números representam uma diminuição de 3% em relação ao ano anterior e de 18,6% desde 2012, quando a pesquisa começou a ser realizada. A taxa de homicídios a cada 100 mil habitantes no país também apresentou queda, agora registrando 21,7, o que representa uma redução de 3,6% em relação a 2021 e de 24,9% desde o início da série histórica.