Nesta quinta-feira (10), a Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados realiza uma audiência pública para discutir um tema que, embora recorrente, segue invisibilizado: o racismo sofrido por profissionais de enfermagem. A iniciativa, proposta pela deputada Enfermeira Rejane (PCdoB-RJ), ocorrerá às 14h, no plenário 7, e contará com participação interativa do público, que poderá enviar perguntas aos convidados.
Embora frequentemente ignorado no debate público, o racismo na área da saúde é uma realidade concreta e devastadora, como destaca a própria deputada proponente. Mais do que ofensas pontuais ou casos isolados, trata-se de um fenômeno estrutural que afeta a carreira, o bem-estar e a dignidade de milhares de profissionais negros em todo o país. A enfermagem, majoritariamente composta por mulheres negras, expõe com nitidez essa desigualdade.
Segundo Rejane, os episódios de discriminação ultrapassam o contato com pacientes ou familiares e se aprofundam nas entranhas do ambiente institucional. Profissionais negros são frequentemente alijados dos espaços de decisão, preteridos em promoções e deixados de fora de capacitações estratégicas. Trata-se de uma exclusão sistemática que reforça hierarquias raciais no interior do próprio sistema de saúde.
O debate se insere em um contexto mais amplo de urgência por políticas de equidade racial no setor público e privado. Apesar da existência de legislações que visam combater a discriminação, os relatos de racismo institucional seguem sendo tratados como exceções, e não como um problema sistêmico. O silêncio das instituições diante dessas práticas contribui para sua perpetuação.
Além disso, a ausência de profissionais negros em cargos de chefia revela um padrão que precisa ser urgentemente revertido. A sub-representação não é reflexo da falta de qualificação, mas de um bloqueio estrutural que impede a ascensão desses profissionais, perpetuando um ciclo de invisibilidade e exclusão. A audiência, portanto, não deve ser encarada como um fim em si mesma, mas como um ponto de partida para mudanças concretas.
A iniciativa da deputada Rejane, embora simbólica, representa uma oportunidade para que o Parlamento se debruce sobre uma ferida aberta no sistema de saúde brasileiro. Mais do que ouvir relatos, é preciso transformar o diagnóstico em ação: rever estruturas institucionais, punir práticas discriminatórias e garantir um ambiente de trabalho verdadeiramente igualitário para todos os profissionais da enfermagem, independentemente de sua cor.