Revista Raça Brasil

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Autor do livro ‘Modernismo Negro’ quebra barreiras e vence o Prêmio Jabuti

O professor e pesquisador Jorge Augusto, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), conquistou o Prêmio Jabuti Acadêmico 2025 na categoria Letras, Linguística e Estudos Literários com o livro Modernismo Negro, publicado pela editora baiana independente Segundo Selo. A obra, derivada de sua tese de doutorado, propõe uma releitura do modernismo brasileiro a partir das experiências negras e periféricas, com destaque para a produção de Lima Barreto.

O reconhecimento é histórico: é a primeira vez que um autor negro, nordestino e publicado por uma editora independente da Bahia leva o prêmio nessa categoria.

A conquista ganha ainda mais peso diante das críticas recorrentes ao Jabuti pela baixa representatividade de negros no júri e entre os indicados. “Não se trata apenas de resgatar Lima Barreto, mas de circular outra forma de interpretar sua obra, partindo da experiência negro-periférica e do repertório cultural negro no Brasil”, afirma Jorge, que também integra o Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura da UFBA e coordena o grupo de pesquisa Perifa, na UESB.

Em Modernismo Negro, Jorge apresenta o conceito de “ética negra” — formas de organização social enraizadas em quilombos, aldeias indígenas, congados, reizados, terreiros e outras tradições comunitárias. Essas práticas, segundo ele, oferecem modelos coletivos e solidários que confrontam o individualismo neoliberal. “O que se odeia nas culturas negras e indígenas é justamente sua capacidade de construir formas de vida mais justas e humanas”, provoca.

O autor também aponta que seu trabalho não busca um diálogo amistoso com a tradição da crítica literária brasileira, mas sim um confronto. A proposta é estabelecer pontes com intelectuais negros — em grande parte baianos — e abrir novos caminhos de interpretação da literatura a partir de vivências historicamente marginalizadas.

Apesar do impacto político e simbólico da vitória, Jorge alerta para a distância entre reconhecimento e transformação estrutural. Ele lembra que, mesmo com a recente premiação de outros professores da UFBA no Jabuti, ainda há um “eixo sudestino de validação” que concentra prestígio e circulação.

Para intelectuais negros nordestinos, as barreiras são ainda mais duras. “Se já é difícil para nomes de ampla circulação nacional, imagine para quem não tem acesso a determinadas redes de reconhecimento”, observa, citando autores como Florentina Souza, Osmundo Pinho e Lívia Natália, que raramente ocupam espaços de destaque nas bienais do Rio ou de São Paulo.

A trajetória da editora Segundo Selo, fundada há 12 anos por Jorge e pela antropóloga e escritora Fernanda Santiago, reforça a importância desse marco. Voltada à publicação de intelectuais e escritores negros, a editora já foi finalista do Jabuti Literário com Palavra Preta (Tatiana Nascimento, 2022) e do Prêmio Oceanos com Diário da Encruza (Ricardo Aleixo, 2023). Agora, com Modernismo Negro, alcança o prêmio máximo no campo acadêmico.

A conquista não é apenas uma vitória individual. É um sinal de que a produção intelectual negrama, rcada por rigor crítico, densidade histórica e urgência política está reconfigurando o mapa da crítica literária brasileira. Como Lima Barreto previu, o Brasil ainda precisa ser escrito e reescrito a partir de suas margens e Modernismo Negro é uma prova de que essa reescrita já está em curso.

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