Nomes como de Jarid Arraes, Rebeca Aletheia e Emicida estão despontando
Maria Firmina dos Reis (1822-1917) é a primeira romancista do Brasil e Machado de Assis (1839-1908) seu maior nome da literatura nacional, a presença negra nas estantes brasileiras permaneceu sufocada por séculos. Hoje, uma nova geração resgata essa lacuna histórica, combinando ancestralidade, denúncia social e inovação estética. Conheça cinco vozes essenciais:
Jarid Arraes: Cordeis e heroínas negras
Obra em destaque: “Redemoinho em Dia Quente” (2022)
Autora cearense radicada em São Paulo, Jarid revitaliza a tradição do cordel com temáticas feministas e negras. Seu romance de estreia, finalista do Prêmio Jabuti 2023, entrelaça histórias de mulheres do Cariri cearense enfrentando violência doméstica e racismo estrutural. Com prosa poética que remete a Conceição Evaristo, Jarid funde realismo mágico e cultura nordestina, criando um manifesto sobre resistência matriarcal.
“Minhas personagens carregam o axé de Dandara e a obstinação de Maria Firmina” – declarou em entrevista à Revista Cult (2023).
Rebeca Aletheia: Diáspora e autodescoberta
Obra em destaque: “Cartas de Uma Viajante Negra ao Redor do Mundo” (2023)
Com passagens por 12 países – do Tadjiquistão a Moçambique –, Rebeca transforma relatos de viagem em reflexão sobre identidade negra global. Seu estilo ágil, entre o diário íntimo e o ensaio antropológico, revela como a cor da pele ressignifica experiências em culturas distintas. O capítulo “Azul no Malawi: Quando o Mito Vira Maputo” tornou-se viral por discutir colorismo na África lusófona.
Geovani Martins: Favela como território épico
Obra em destaque: “Parede Alta” (2024)
Após o estrondoso sucesso de “O Sol na Cabeça” (2018), o cariocha Geovani Martins retorna com um romance sobre jovens da Rocinha durante a pandemia. Com diálogos em gírias locais e ritmo cinematográfico, a obra expõe a falácia das políticas de segurança pública enquanto acompanha três amigos montando um clube de rap clandestino. Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, foi elogiado por Ferréz como “a voz que o asfalto nunca calará”..
“Não queremos só entrar nas livrarias. Queremos reescrever as regras.” – Geovani Martins, Festas Literárias das Periferias (2024).
Jeferson Tenório: Cotas e revolução íntima
Obra em destaque: “De Onde Eles Vêm” (2024)
Neste romance pós o “Avesso da Pele” (vencedor do Jabuti 2021), Tenório acompanha Joaquim, um dos primeiros cotistas negros da UFRJ em 2006. Entre bibliotecas hostis e empregos precários, o protagonista descobre Carolina Maria de Jesus, cujos textos o ajudam a decifrar seu lugar num sistema que criminaliza sua ascensão. A cena em que ele rasga um livro racista na sala de aula tornou-se símbolo da nova literatura engajada.
Emicida: Infância e raízes afro-brasileiras
Obra em destaque: “Amoras” (2023, ed. ampliada)
Adaptado do clássico rap homônimo, o livro infantil de Emicida ganhou nova edição com atividades pedagógicas sobre cultura iorubá. Através das ilustrações vibrantes de Aldo Fabrini, crianças aprendem sobre orixás, capoeira e auto aceitação. Utilizado em mais de 300 escolas públicas, inclui QR codes com contação de histórias pelo próprio artista – uma ferramenta contra o apagamento cultural.
Enquanto Jarid resgata técnicas do cordel e Emicida atualiza tradições orais, esses autores provam que inovação nasce do diálogo com suas raízes. Seus livros não são apenas histórias: são trincheiras.