Avanços e fraudes no quesito racial que saíram das urnas

Por: Maurício Pestana

Aquilo que já havia pronunciado nesta coluna, em vários artigos, confirmou-se nessas eleições. O tema inclusão e a questão racial estiveram em alta na campanha legislativa, o que resultou no aumento do número de candidatos que se autodeclaram negros e negras e também em campanhas vitoriosas nas assembleias legislativas espalhadas por todo o país, assim como na Câmara dos Deputados.

Se à primeira vista nos enche de esperança que finalmente o país começa a ter a representatividade negra em pelo menos um dos poderes, também é fato que ao colocar uma lente mais próxima e com o rigor das desigualdades brasileiras, impõe-nos ver que não só as disparidades ainda são grandes, como também os casos de fraudes.

A autodeclaração em nosso país, utilizada no censo do IBGE, é o método oficial que distingue pelo próprio cidadão qual é a cor, a etnicidade racial, segundo o qual ele se autointitula e se define. Esta é a melhor forma e mais respeitosa de realmente entendermos o quanto a questão de raça é um fator de desigualdade.

Mas este método também pode ser usado de forma fraudulenta, e com objetivo excluso de tirar vantagens e encurtar caminhos, negligenciando e burlando a lei, prejudicando um processo justo de tentar reparar as desigualdades raciais no país.

Isso é um atentado contra a democracia, que pressupõe na sua natureza a igualdade entre as pessoas.

Infelizmente esta prática tem sido comum em alguns processos seletivos de cotas no Brasil, principalmente no que diz respeito às vagas nas universidades públicas federais.

E agora com as possibilidades que se abriram para um percentual maior para um fundo nas campanhas eleitorais encabeçadas por negros e mulheres, essas fraudes estão se tornando comuns também nas candidaturas eleitorais.

É uma afronta ver candidatos que se autodeclaram negros serem visivelmente brancos, e ocupando de forma impostora o lugar daqueles que sempre levaram desvantagem nessa sociedade racista e desigual.

Encerro este artigo dizendo que houve avanços significativos, sim. O fato de São Paulo ter eleito a primeira mulher travesti deputada federal, que se autodeclara negra e que tem feito um trabalho interessante com o foco nas desigualdades raciais, mostra um avanço.

Em outros estados, também foram eleitos deputados negros que tem como pauta a luta contra o racismo, o fim da desigualdade e a luta por uma sociedade mais justa mostra que também a questão da desigualdade no Brasil ganhou espaço na agenda política, e vai ajudar muito nosso avanço como sociedade civilizada e mais justa.

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