Azira’i, o musical sucesso de crítica agora em São Paulo
Espetáculo teatral solo e musical que traz a relação indígena de filha e mãe. A dramaturgia é protagonizada pelas memórias da filha, a atriz Zahy Tentehar e sua convivência com a mãe Azira’i Tentehar, que nasceram e vive em Cana Brava, no Maranhão e é a primeira mulher pajé da reserva indígena. As cenas são alternadas em duas línguas, o português e a língua originária Ze’eng eté, a ideia é mostrar e discutir os processos de aculturamento que foi obrigada a enfrentar. A direção é de Duda Rios e Denise Stutz, direção musical de Elísio Freitas, projeções de Batman Zavareze e produção de Sarau Cultura Brasileira.
Azira’i chegou ao posto de primeira mulher Pajé de uma reserva indígena e alcançou a posição de Pajés Supremos dos povos Tentehar, remetido somente a indivíduos que possuem sabedorias espirituais e medicinais profundamente desenvolvidas, que era a sua condição especial. O dilema que gera o conflito principal da montagem são as relações de um interior nordestino exageradamente patriarcal, que visa a preservação dos valores ancestrais em contrapartida das dinâmicas e mazelas do sistema civilizatório imposto pela globalização.
Em sua fala autobiográfica Zahy a filha, conta que foi escolhida por sua mãe para assumir o legado dos dons da pajelança e a comunicação com os povos Mairas, no entanto, Azira’i a mãe, atenua todas as suas frustrações ao enxergar que vive em um ambiente ainda colonial e de opressão e, que vai ter que transmitir essa dura realidade para a filha. Azira’i utilizava a supremacia da pajelança, através de três métodos de cura: a mão, o canto e as plantas e procurou transmitir essa tríade espiritual para Zahy.
A peça chega a São Paulo para uma curta temporada, depois do grande sucesso da crítica em 2023, no Rio de Janeiro, quando foi indicada a vários prêmios, como o Prêmio Shell em quatro categorias: dramaturgia, atriz, cenário e iluminação, e ao Prêmio APTR, por: iluminação, direção e jovem talento/atriz. O palco agora é o teatro do Sesc Ipiranga. O musical ficará em cartaz até 31 de março, com apresentações as sextas, sábados e domingos.
O destaque dessa montagem é a maneira de como se desenvolve a relação entre essas duas mulheres, que demonstram nossos diversos brasis, as diferenças e semelhanças, os sentimentos envolvidos nessa trajetória e os reflexos causados ao coletivo. A maneira como Zahy conta sua história e de várias outras pessoas, ajuda a esclarecer a romanização da vida dos povos indígenas. Para Zahy é libertador falar de forma humanizada do cotidiano indígena sem pré-conceitos.
Por Sabrina Andrea @sabrandrea