Baile do Carmo comemora 130 anos de luta e resistência negra

Festa começa nesta quarta-feira (11) e é a maior comemoração da comunidade negra araraquarense

Considerado a mais sólida manifestação da cultura negra em Araraquara, o baile do Carmo começa nesta quarta-feira (11), comemorando 130 anos, com várias atrações, entre elas Xandê de Pilares, Fat Family e Orquestra Tupy, no tradicional baile de gala. O Baile do Carmo é uma forma de resistência e fortalecimento da comunidade negra e todos os anos reúne mais de cinco mil pessoas em torno de toda a programação.

“Para quem não sabe, o Baile do Carmo trata-se de uma atividade cultural de valorização dos negros. Em meados do século passado, os negros não podiam ocupar os espaços dos brancos. Isso valia também para os locais destinados ao lazer, por isso, o baile se tornou tão importante para a comunidade”, diz a pesquisadora Valquíria Tenório autora do livro “Baile do Carmo: memória, sociabilidade e identidade étnico-racial em Araraquara”.

Valquíria explica ainda que em Araraquara, o footing (paquera da juventude dos anos 60) acontecia em frente ao antigo Teatro Municipal, onde hoje é o prédio da Prefeitura. O belo imóvel ao lado, o Palacete das Rosas, onde hoje funciona a sede da secretaria da Cultura, abrigava o Clube Araraquarense, considerado exclusivo da elite local. “Ali rolava a paquera, o bate-papo, o encontro da moçada da época. Os negros, no entanto, não eram bem-vindos. Se não eram bem-vindos ao footing, não estavam autorizados a frequentar as festas, daí a necessidade de se organizar em uma festa própria”, acrescenta a pesquisadora

Antes disso, porém, no início do século 20, no entorno da igreja do Carmo, núcleos negros participavam ativamente dos festejos religiosos. A festa dedicada àquela santa era um dos poucos lugares em que os negros podiam frequentar. “Essa aceitação por parte dos realizadores da festa desencadeou um movimento em torno do mês de julho e fez surgir, em data imprecisa, o Baile do Carmo”, reforça Valquíria.

Baile do Carmo comemora 130 anos de luta e resistência negra

Festa começa nesta quarta-feira (11) e é a maior comemoração da comunidade negra araraquarense

Fernanda Manécolo | ACidadeON/Araraquara

Baile do Carmo em Araraquara (Foto: Arquivo Pessoal)

Considerado a mais sólida manifestação da cultura negra em Araraquara, o baile do Carmo começa nesta quarta-feira (11), comemorando 130 anos, com várias atrações, entre elas Xandê de Pilares, Fat Family e Orquestra Tupy, no tradicional baile de gala. O Baile do Carmo é uma forma de resistência e fortalecimento da comunidade negra e todos os anos reúne mais de cinco mil pessoas em torno de toda a programação.

“Para quem não sabe, o Baile do Carmo trata-se de uma atividade cultural de valorização dos negros. Em meados do século passado, os negros não podiam ocupar os espaços dos brancos. Isso valia também para os locais destinados ao lazer, por isso, o baile se tornou tão importante para a comunidade”, diz a pesquisadora Valquíria Tenório autora do livro “Baile do Carmo: memória, sociabilidade e identidade étnico-racial em Araraquara”.

Valquíria explica ainda que em Araraquara, o footing (paquera da juventude dos anos 60) acontecia em frente ao antigo Teatro Municipal, onde hoje é o prédio da Prefeitura. O belo imóvel ao lado, o Palacete das Rosas, onde hoje funciona a sede da secretaria da Cultura, abrigava o Clube Araraquarense, considerado exclusivo da elite local. “Ali rolava a paquera, o bate-papo, o encontro da moçada da época. Os negros, no entanto, não eram bem-vindos. Se não eram bem-vindos ao footing, não estavam autorizados a frequentar as festas, daí a necessidade de se organizar em uma festa própria”, acrescenta a pesquisadora

Antes disso, porém, no início do século 20, no entorno da igreja do Carmo, núcleos negros participavam ativamente dos festejos religiosos. A festa dedicada àquela santa era um dos poucos lugares em que os negros podiam frequentar. “Essa aceitação por parte dos realizadores da festa desencadeou um movimento em torno do mês de julho e fez surgir, em data imprecisa, o Baile do Carmo”, reforça Valquíria.

Sem ignorar a história
A data real em que a festa nasceu é realmente um enigma, porque não há documentos que comprovem. Fato é que no calendário oficial a festa completa 130 anos em 2018. Daniel Amadeu Martins Filho, o Costa, o presidente do Baile do Carmo é um dos que defendem que a festa começou ainda na época dos quilombos.

“No bairro do Carmo, onde hoje é o Sesc havia um quilombo e lá vivia o negro Damião. Damião era escravo e sonhou que Nossa Senhora do Carmo dizia para ele parar de sofrer e festejar. Uma festa foi criada para os negros dançarem e cantarem, porém, quando o capitão do mato descobriu, mandou cortar as pernas de Damião, para que ele não dançasse mais”, afirma Costa.  

Só para negros
Durante todos os anos se criou em torno do Baile do Carmo uma cultura de resistência negra, que inclusive não aceita brancos nos festejos. Porém, isso é bobagem para Kiko Camargo, um dos colaboradores da festa. “Hoje muitos brancos participam da festa, claro, são minoria, mas são aceitos, sim”, reforça.

Kiko lembra que a tradição do Baile do Carmo se confunde com a história dos negros em Araraquara. “Araraquara já foi considerada uma das cidades mais preconceituosas do País, mas aqui os negros conquistaram seu espaço e a festa tem relação com isso”, diz ele.

A proposta nasceu como forma fortalecimento da comunidade negra e o baile já foi realizado em vários locais como no próprio Teatro Municipal e no Clube Araraquarense. “Era o único dia em que os negros entravam para festejar no clube e dizem que depois mandavam desinfetar o salão”, afirma Kiko.

Tradição
Ao longo dos anos, o baile foi se moldando a sociedade. No início era uma tarde de futebol e samba, a noite de galã, ambas no sábado e no domingo, um boteco com samba. Atualmente são cinco dias de programação.

Os ingressos ainda estão sendo vendidos e podem ser adquiridos em pontos de vendas ou ainda no escritório do Baile do Carmo. Para o baile de gala, por exemplo, o ingresso custa R$ 80 individual e R$ 350 mesa com quatro lugares. Para a feijoada no domingo, o ingresso está sendo vendido a R$ 40, por pessoa.

Confira a programação
Quarta-feira (11) Abertura Oficial FatFamily às 20h, entrada gratuita e aberta ao público
Quinta-feira (12) Desfile Show Moda Afro às 20h, no Gran Hotel Municipal entrada paga
Sexta-feira (13) Sexta Black às 20h, Salão do Orfanato Renascer entrada paga
Sábado (14) Samba, Futebol e Cerveja no Clube Estrela
Sábado (14) Baile de Gala Orquestra Tupy e Dj Glalcon – Ingresso custa R$ 80 individual e R$ 350 mesa com quatro lugares
Domingo (15) Feijoada a partir das 10h, entrada paga
Domingo (15) Festa de encerramento, com Xandê de Pilares, a partir das 18h, no Orfanato Renascer.

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