BBB 24 – Um retrato do Brasil por meio de um reality

Finalistas são o retrato do Brasil; se engana quem pensa que o BBB é apenas um programa de entretenimento

Após mais de 20 edições, o Big Brother Brasil deixou de ser apenas um programa de entretenimento, diversão ou estudo comportamental em que pessoas diferentes ficam em um espaço limitado obrigados a conviver por mais de 100 dias. Para qualquer analista do comportamento humano, o reality tem se tornado uma verdadeira fonte que mostra as virtudes e preconceitos, além de outros defeitos e qualidades do brasileiro mediano.

Observando com um pouco mais de atenção os personagens do programa, percebemos um retrato fiel e sem distorções da nossa população em sua maioria: muito compromisso com a estética corporal e social exacerbado em redes sociais, com pouco compromisso político ou social.

Obviamente, existem exceções assim como na população. Mas a conexão que a casa tem com o Brasil real é tamanha que, por estratégia de jogo ou simplesmente por retratar fielmente nossa realidade, algumas palavras de ordem, gestos e comportamentos podem parecer caricatos. Essas atitudes, no entanto, retratam a essência e a alma do brasileiro real, ainda mais neste momento de tantas incertezas e principalmente quando o jogo se aproxima da reta final.

A chegada como finalista do motorista de aplicativo Davi demonstra isso. Negro, baiano e da periferia de Salvador, ele é a personificação dessa representação social que vem das periferias abandonadas deste país. Davi é um cidadão simples que, em suas ações dentro da casa, demonstra uma habilidade fenomenal de sobrevivência de ter que se virar sozinho, sem auxílio, sem afeto. Ele é visto como um alvo que deveria ser eliminado pela maioria dos outros participantes que se achavam superiores ao baiano por causa da ameaça que ele representa. Não por acaso, ele foi um dos recordistas ao Paredão.

Do ponto de vista religioso, a casa é o mais puro exemplo do Brasil atual tem se tornado: uma nação cada vez mais cristã-evangélica. Não por acaso o refrão mais entoado é o: “obrigado, Brasil! obrigado, Jesus!”, frase que é dita pela maioria dos participantes que escapam do Paredão. Eles esboçam um sentimento daqueles que sabem que aqui, dentro ou fora da casa, resta mesmo é contar com Deus.

Davi está longe de ser um herói. Ele é, sim, um verdadeiro sobrevivente que resistiu bravamente ao restante da casa. Ganhando ou não, resta saber se resistirá aqui fora aos assédios e aos projetos políticos. Já existem rumores de uma possível candidatura para ele e, vendo a estratégia de jogo que a vida o impôs dentro e fora da casa, os métodos individuais adotados pelo baiano apontam para um projeto político do indivíduo, do mérito, do: “eu sobrevivi sozinho e, posso continuar assim”. Traduzindo: a tal meritocracia do agraciado pelo Deus do conservadorismo ainda muito forte entre nós.

Tive o prazer este mês de entrevistar três participantes do BBB. Todos negros que sobreviveram à casa e continuam fazendo sucesso em suas respectivas profissões, dois médicos e uma pedagoga: Fred, Thelminha e Jessi. Todos com uma coisa em comum: consciência racial clara e definida. Fred Nicácio, por exemplo, chegou até propor uma final toda negra pregando uma aliança negra entre os participantes. Já Jessi se destacou pela defesa incondicional da educação, enquanto Thelminha, que teve um discurso mais moderado, foi além e venceu uma das edições da competição, levando prêmio para casa.

A final que se apresenta neste início de semana, coincidência ou não, também lembra regionalmente a última disputa eleitoral do país onde Norte e Nordeste numericamente definiram a eleição em prol de uma candidatura enquanto o Sul, minoritário, ficou com outra candidatura. Nesta final, existem dois representantes, sendo um do Norte e outro do Nordeste, enquanto o terceiro é do Sul. Os finalistas também possuem a representação étnica do povo brasileiro: um negro, um branco e uma indígena. São dados para aqueles que acham que o BBB é apenas um programa de entretenimento e não um retrato do Brasil real.

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