Beleza, identidade e autoestima

Há pouco mais de um mês participei do programa Raça na TV exibido pela TV Guarulhos
(canal 03 da Net, de segunda-feira às 23h e disponível também no YouTube) quando tive
a oportunidade de falar de beleza e comportamento.

Uma das primeiras perguntas que o Maurício Pestana, editor do programa e da revista,
fez foi sobre a relação entre saúde e estética. Foi um ótimo começo de bate papo, porque
eu sempre escrevo e falo que a beleza, ou melhor, sobre como a noção de beleza na
nossa sociedade está muito mais relacionada como nos enxergamos, ou até mesmo
como a sociedade nos enxerga, do que de fato como nos sentimos e o quanto é
importante discutir isso.


Expliquei que o meu trabalho nesse campo sempre está conectado com os conceitos de
beleza, identidade e autoestima, porque permite ir além da prateleira de cremes e
cosméticos e fazer relação entre aquilo que vejo no espelho, com minha identidade racial
e com minha saúde (física e mental), por exemplo. E, também o quanto a noção ou ideia
de beleza está contaminada pelos ideais racistas.

Essa última conexão, por exemplo, é sem dúvida, na minha opinião, a mais perversa,
porque faz com que a sociedade, incluindo pessoas negras e não negras, não enxergue o
cabelo crespo, a pela escura e outros traços comuns nos negros como características
belas, o que além de não permitir diferenciais diversos de beleza, tem levado, cada vez
mais, pessoas a adoecer, em especial as mulheres negras.
Então, costumo dizer que nem sempre um cabelo com pouco brilho, que cai muito, uma
pele muito oleosa ou com problemas de acne, como a minha, são problemas simples, que
podem ser resolvidos com um ou outro creminho. Sempre alerto que é essencial buscar
ajuda médica e nos casos onde os problemas são mais graves é fundamental procurar
um profissional da saúde mental, porque algum sofrimento pode estar alterando nossa
auto percepção.

Os determinantes das condições de saúde e em especial o racismo, podem influenciar
negativamente nossa compreensão de beleza. A ideia ou noção de beleza para mim está
concentrada a partir de dois pensamentos. O primeira é individual e está relacionado com
o autoconhecimento, ou seja, como nos enxergamos e nos colocamos no mundo. O
segundo está associado como o mundo nos enxerga e que entraves ele vai colocando na
nossa vida. Então, você pode se sentir bem, amada, bonita. Mas, o segundo movimento,
em uma sociedade racista, machista, homofóbica, como a brasileira, impactam na ideia
que temos de nos mesmos e na nossa autoestima, porque, por vezes, não considera o
cabelo crespo, a pela preta e outras características como belas e até mesmo aceitáveis.
O mais agravante é que esse referencial racista é disseminado em larga escala nos meios
de comunicação.

Por isso, sempre que estiver se arrumando, pense sobre como você se sente e quando
não se sente bem ou bonita/o, se de fato você não está se deixando levar por ideias
racistas, machistas e discriminatórias. Agarre-se a sua beleza, aos seus referenciais de
identidade e a sua autoestima.

Rachel Quintiliano.

Jornalista, pós-graduada em comunicação e saúde, consultora na
área de comunicação, planejamento e sistematização com foco em saúde, gênero e raça e empreendedora do ramo de cosméticos.

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About Author /

Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.

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