Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia: Silenciando o passado.  

Zulu Araújo 

No último dia 04 de julho, participei de um seminário histórico realizado no Instituto Federal de Educação da Bahia (IFBA), intitulado – “A visão Popular de Independência no 2 de Julho, cujo mediador foi o consagrado historiador João José Reis (Professor Doutor da UFBA) e os palestrantes Professora Doutora WlamiraAlbuquerque, (UFBA) Professor Doutor Sérgio Guerra (UFREB) e o inglês, também Professor Doutor Hendrik Kraay (Univ. of Calgary-Canadá). 

Saí da palestra com a alma lavada. Tanto os palestrantes quanto a palestrante discorreram sobre as profundas mudanças que vem ocorrendo ao longo dos últimos anos nas celebrações da Independência do Brasil na Bahia e afirmaram de forma categórica que sempre houve por parte da elite baiana a tentativa de fazer com o 2 de Julho baiano o mesmo que fizeram com o 7 de setembro sulista. 

Ou seja, apagar a participação popular nas lutas da independência e esconder que a principal reivindicação das populações negras e indígenas nunca foram atendidas muito pelo contrário, sempre foram duramente reprimidas. 

Tudo aquilo que afirmei no artigo que publiquei no último dia 2 de Julho aqui na Revista Raça, intitulado – “O 200 anos do pacto racista da  Independência”, não só foi confirmado pelos estudiosos do tema, como em vários aspectos foram ampliados. Por exemplo, quem financiou a presença de dois dos maiores mercenários na luta e que hoje são reverenciados como heróis, a despeito de terem sido regiamente pagos para participarem da luta, foram os proprietários de terras da Bahia e D. Pedro II. 

Uma revelação importante e trágica foi trazida a baila, pelo historiador João Reis, no evento. O General Labatut, considerado um dos heróis da Independência, além de ser um mercenário contratado por D. Pedro, para por ordem no exército baiano, foi responsável pelo massacre por fuzilamento de dezenas de quilombolas amotinados que exigiam a alforria prometida por participarem da luta pelaindependência.

Além disso, mandou chicotear dezenas de mulheres negras por terem apoiado o levante. Ao final do seu relato ele conclamou a plateia a denunciar esses fatos e que fizessem uso desse momento histórico para buscar a reparação, pois eles estavam diretamente vinculados ao pacto escravista firmado entre os senhores de escravos e o império para não abolirem a escravidão no país. 

O outro herói da independência também reverenciado pela elite brasileira o Lord Cochrane, era um mercenário, a serviço da Inglaterra, conhecido mundo afora como o “Lobo do Mar” e que cobrou e ganhou na justiça brasileira, em 1875, 4.5 milhões de libras esterlinas, o equivalente em reais a 30 milhões de reais pelos serviços prestados na luta pela independência. Enquanto isso, os negros libertos, escravizados e indígenas foram mantidos na segregação e escravidão. 

Esses fatos históricos ocorridos na Independência do Brasil na Bahia não podem nem devem continuar sendo silenciados ou apagados do conhecimento público, como tem sido feito ao longo do tempo. Esse heroísmo folclorizado que tenta nos impingir precisa ser desmascarado, embora concorra para isso não só os interesses da elite baiana e brasileira, assim como a desinformação e ignorância de muitos dos líderes da comunidade negra. Por isso mesmo a pergunta que não quer calar continua de pé: Por que a Independência do Brasil na Bahia não foi acompanhada da Abolição da Escravatura?

Toca a zabumba que a terra é nossa!

Comentários

Comentários

About Author /

Start typing and press Enter to search

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?