No último domingo (16), vinte e cinco crianças de escolas públicas da Bahia viveram um daqueles dias que a gente guarda para contar no futuro. Elas caminharam pelo Centro Histórico, pelo coração pulsante da cultura negra em Salvador, e terminaram o passeio do jeito mais bonito possível: conhecendo Lázaro Ramos e recebendo em primeira mão seu novo livro infantil, “Descobrindo a minha história”.
A ação, realizada pela Editora Sextante e pelo Instituto RioMemóriaAção, não foi só um evento literário — foi um reencontro com raízes, com pertencimento e com a certeza de que a história negra continua sendo escrita, agora também pelas mãos de crianças que se viram representadas.
O passeio começou na Praça Thomé de Souza e seguiu por caminhos que carregam passos de gerações, como a Praça Zumbi dos Palmares e o Largo do Cruzeiro, onde os pequenos participaram de uma roda de capoeira. No final do percurso, o Pelourinho — palco de tantas lutas e celebrações — se abriu para receber Lázaro. O lugar onde ele começou sua trajetória no Bando de Teatro Olodum agora o via retornar como autor, referência e inspiração.
“Que dia potente. Saio emocionado com cada abraço, cada conversa e cada brilho nos olhos”, escreveu o ator.
E não era para menos — ali, diante dele, estavam crianças que se reconheciam no sorriso, na pele, na história e na força que ele representa.
Lázaro relembrou seu início no Pelourinho e falou sobre como obras como Ó Paí, Ó ainda ecoam para manter viva a narrativa de resistência negra. Contou também que o livro nasceu após uma viagem à Etiópia, quando visitou o Rio Omo e mergulhou em memórias da infância, entre elas as da Ilha do Pati. A obra carrega elementos das culturas africanas e reafirma seu compromisso em fortalecer identidades.
“Ser referência é uma responsabilidade e meu grande sonho. Quero ser influência positiva”, disse, com a humildade de quem sabe que cada palavra pode mudar uma vida.
E mudou.
Júlia Yndilyine, do Instituto Ayomide Odara, resumiu com a clareza que só uma criança tem:
“É muito importante que meninas e meninos negros vejam o que podem fazer.”
Davi dos Santos, de 10 anos, saiu com os olhos brilhando — agora mais perto do sonho de ser professor ou jogador de futebol.
Para Alcino dos Reis Amaral e Thiago Sereno, representantes do RioMemóriaAção, ações como essa são pontes: conectam crianças às memórias negras das cidades, à ancestralidade e a tudo que muitas vezes a internet não mostra. “Queremos aproximar a Pequena África de outros territórios”, disse Alcino. Thiago completou: “A ideia foi trazer a ancestralidade de uma forma que a internet não apresenta.”
E foi exatamente isso que aconteceu:
um encontro que deu nome, voz e lugar à história dessas crianças — e que, de alguma forma, também reescreveu a nossa.







