C A N T O D A R E V O L U Ç Ã O

 Fecha meu corpo e abre meus caminhos! 

Cantora e compositora pernambucana, Doralyce acredita no poder da arte para revolucionar a sociedade, promovendo reflexão profunda sobre o papel das vozes que foram historicamente silenciadas. Como artista, mulher, negra e nordestina, faz do seu canto uma forma de resistência e empoderamento. Seu repertório autoral conta com mais de 300 músicas que tratam de temas como política, ancestralidade, empoderamento da mulher negra e, principalmente, a força da fé nas culturas de matrizes africanas.

Depois do sucesso do lançamento do clipe “Miss Beleza Universal”, no primeiro semestre do ano de 2017, Doralyce vem com o “Canto da Revolução”, seu primeiro CD autoral. O disco chegou na rede na última semana do ano passado, com 8 faixas autorais, sendo os  ritmos brasileiros, com um perfil performático para um trabalho “fora do padrão”. O disco é uma realização do Coletivo 22, gravado na Casa da Música – Rio de Janeiro,  com masterização do pernambucano Buguinha Dub, direção musical de Dudu Souto e Pedro Amparo,  a influência sonora de Mônica Ávila nos sopros e coros, e a   produção musical de Renato Piau, que gravou com Luiz Gonzaga, Raul Seixas, Tim Maia e foi parceiro durante 40 anos do cantor Luiz Melodia, e agora abraça a carreira de Doralyce.

A artista começou sua carreira no berço de importantes movimentos culturais e estéticos, o sítio histórico de Olinda. Lá, Doralyce cresceu sob a influência do ” OlindaStyle” e   “manguebeat”. Até os 15 anos, morou em Palmares-PE, terra dos poetas, de poesia de canavial, onde recitava suas primeiras poesias. Ao mudar para o Rio de Janeiro, em 2014, seu trabalho se potencializou ao dialogar com a cena teatral carioca, por meio da companhia Gene Insanno e com a cena artística independente, através dos movimentos de ocupação e resistência cultural, em que teve expressiva atuação. Em sua breve e produtiva trajetória, Doralyce foi vocalista do Grupo Percussivo Conxitas, em Olinda – PE, passou por importantes palcos do Rio como Canecão e Circo Voador e fez turnê por Bahia e Pernambuco. Além disso, cantou ao lado de nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Beth Carvalho, Arlindo Cruz, João Donato, Criolo, Abayomy, além dos blocos Tambores de Olokun, Amigos da Onça e Agytoê e a Cia. teatral Teatro de Afeto.

Nas músicas a cantora traz a influência da modernidade aliada à intervenção de suas origens advindas dos bisavós de origem indígena e africana. Este passeio musical traz os mares do coco, afoxé, maracatu e maculelê se encontrarem com o Rio do funk e rap. Um reflexo da Música Popular Brasileira contemporânea com ritmos, tradições e rituais que comportam a cultura afrobrasileira.

A capa do disco, com projeto gráfico da artista plástica Gabriela Meira, traz uma figura de Jesus palestino, junto a imagens de orixás ao redor da figura feminina central que veste uma faixa com o título “Miss Beleza Universal” e segura uma imponente espada, elemento que, segundo a cantora, expressa libertação, em conexão com as divindades femininas. Moda e música sempre estão conectadas! Na história, as tendências de comportamento ensejadas pela música sempre ajudaram a materializar outros modos de viver e consequentemente de vestir e no trabalho de Doralyce evoca a estética afrofuturista. Com um figurino composto por elementos extra-cotidianos, Doralyce se coloca de modo performático nas fotografias para reivindicar, por meio da imagem e da música, a luta por pertencimento numa terra onde a população negra ainda luta para se afirmar, e resiste também por meio da arte.

Ouça o “Canto da Revolução”

Links de Acesso ao disco:

 

Fotos: Ana Beatriz Salgado

 

CAROL BARRETO

Mulher Negra, Feminista e como Designer de Moda Autoral elabora produtos e imagens de moda a partir de reflexões sobre as relações étnico-raciais e de gênero.  Professora Adjunta do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade – FFCH – UFBA e Doutoranda no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade – IHAC – UFBA, pesquisa a relação entre Moda e Ativismo Político.

 

*Este artigo reflete as opiniões do autor. A Revista Raça não se responsabiliza e não pode ser responsabilizada pelos conceitos ou opiniões de nossos colunistas

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