Carrefour: um passo adiante no combate ao racismo

Os 115 milhões de reais que o Grupo Carrefour irá desembolsar para aplicação em ações de redução de danos que o racismo estrutural tem provocado em nosso país, é muito mais que uma reparação financeira diante do assassinato cometido contra um cidadão negro (João Alberto Freitas) em dos seus supermercados de Porto Alegre, é  na verdade um passo importante que a sociedade brasileira está dando na luta contra o racismo e a violência que se abate sobre  comunidade negra desde sempre em nosso país. 

Neste sentido, é importante dizer que não apenas a família direta da vítima (João Alberto) está sendo beneficiada nesta ação, considerada a maior indenização de todos os tempos na América Latina. Serão 68 milhões de reais para bolsas de estudos, 14 milhões para campanhas educativas, 6 milhões para qualificação profissional, 8 milhões para projetos de inclusão, 2 milhões para projetos sociais em quilombos, dentre outras ações. Além disso, a empresa está assumindo o compromisso de contratar 30 mil pessoas negras nos próximos três anos, 600 agentes de prevenção contra o racismo na rede, promover a aceleração de carreira de 300 profissionais negros e realizar 100% de treinamento continuado entre seus funcionários sobre letramento racial daqui pra frente.

Este acordo que contou com a participação do Ministério Público Ministério Público Federal e Estadual, Defensoria Pública do Estado e da União, e as ONGs Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes) e Centro Santo Dias de Direitos Humanos, instituições respeitáveis do movimento negro e da sociedade brasileira para que o resultado chegasse a bom termo. O acordo tem como foco principal “a promoção da Educação, do empreendedorismo e desenvolvimento de projetos socioculturais para o combate ao racismo estrutural no Brasil”. Essa vitória é prova concreta de que é possível sim, fazer reparação com dignidade, avançar na luta pelos direitos humanos e punir empresas e empresários que dão suporte as ações racistas, independente da ação penal contra os assassinos materiais.

Claro que esta não foi uma tarefa fácil, houve muita discussão, debate, incompreensões e até mesmo radicalizações, fatos mais do que normais diante da gravidade do ocorrido e do ineditismo da ação. Frei Davi (Educafro) que participou ativamente das negociações celebrou o acordo afirmando o seguinte: “O que eu sofri, o que fui perseguido não é nada frente ao que fizeram essas pessoas, o que sofreram, eu me sinto confortavelmente com energia pra fazer mais ações em prol de um Brasil melhor.” Na mesma linha se manifestou o CEO do Carrefour Noel Prioux ao afirma que: “Adotamos uma postura antirracista e estamos trabalhando e investindo para contribuir para que a sociedade possa evoluir no combate ao racismo e diminuir a igualdade racial no Brasil.”.

Enfim, apesar de lamentarmos profundamente a vida perdida, o que depreendemos desse desfecho é que apesar do volume dos recursos envolvidos, em nenhum momento foi perdida a dimensão racial, social e política que o movimento negro precisava para dar uma resposta exemplar para a sociedade brasileira diante desse bárbaro crime. Até porque, num país capitalista e racista como o nosso não basta a reparação simbólica e jurídica neste combate. É fundamental a reparação financeira, pois este ainda é o ponto mais sensível do capitalista no mundo ocidental.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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