O lamentável episódio envolvendo o técnico Luis Enrique e o atacante João Pedro após a final do Mundial de Clubes vai além de uma simples discussão no calor do jogo. A cena, em que um treinador branco europeu age de forma agressiva contra um jogador negro brasileiro, escancara as assimetrias de tratamento que ainda persistem no futebol global. O fato ocorre em um esporte que se diz inclusivo, mas onde jogadores negros continuam enfrentando situações desproporcionais de conflito.
A reação de Luis Enrique, embora ele alegue ter sido uma tentativa de mediação, ganha contornos diferentes quando analisada pelo prisma racial. Historicamente, atletas negros são frequentemente vistos como “agressivos” ou “descontrolados” em situações de conflito, enquanto figuras de autoridade brancas têm suas ações justificadas como “intervenções necessárias”. Essa dinâmica perversa se repetiu mais uma vez no MetLife Stadium.
João Pedro, em suas declarações pós-jogo, tocou em um ponto crucial ao mencionar que alguns “não souberam perder”. Sua fala ressoa como uma crítica velada à falta de equidade no tratamento entre atletas negros e figuras de autoridade brancas no futebol. Enquanto jogadores negros são rapidamente punidos por qualquer reação mais exaltada, técnicos e dirigentes muitas vezes agem com uma sensação de impunidade.
O PSG, clube que se apresenta como multicultural, precisa refletir sobre como lidou com essa situação. O futebol europeu, que se beneficia do talento de jogadores negros brasileiros e africanos, ainda não resolveu suas contradições no trato com esses atletas. O incidente não foi apenas sobre uma briga, mas sobre relações de poder desiguais que permeiam o esporte.
A FIFA e as entidades do futebol devem usar este caso para aprofundar a discussão sobre relações raciais no esporte. Não se trata de acusações individuais, mas de reconhecer padrões estruturais que precisam ser mudados. O caminho para um futebol verdadeiramente igualitário passa por reconhecer essas dinâmicas e trabalhar ativamente para transformá-las.
O que aconteceu em Nova Jersey foi mais um capítulo em uma longa história de desequilíbrios raciais no futebol. Enquanto o Chelsea celebra seu título, o esporte como um todo precisa refletir sobre como garantir que todos os atletas – independentemente de cor ou origem – sejam tratados com o mesmo respeito e dignidade. O futebol só será realmente belo quando superar essas contradições.