Revista Raça Brasil

Compartilhe

CCBB promove palestras sobre racismo

O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) insere na programação da exposição Arte Subdesenvolvida duas palestras que abordam temas urgentes: racismo e desinformação. A mostra, que segue em cartaz até 3 de agosto, reúne obras de artistas brasileiros que refletem sobre o conceito de países “subdesenvolvidos” entre as décadas de 1930 e 1980. Com entrada gratuita, os ingressos devem ser retirados antecipadamente, evidenciando a demanda por espaços de discussão crítica em um momento de polarização e revisionismo histórico.

No sábado (26/7), o professor e historiador Marcelo Tomé conduz a palestra Educação Antirracista, propondo uma reflexão sobre o letramento racial como ferramenta para desconstruir estereótipos amplificados pelas redes sociais e algoritmos. A discussão surge em um contexto em que plataformas digitais, sob a falsa neutralidade tecnológica, perpetuam visões distorcidas sobre raça e desigualdade. A fala de Tomé não só questiona estruturas sociais, mas também desafia a noção de que a educação racial é um tema secundário no combate ao racismo.

Na semana seguinte (2/8), o curador Moacir dos Anjos lidera a conversa Arte e Subdesenvolvimento no Brasil, analisando como a produção artística nacional respondeu ao estigma de país “terceiro-mundista”. A palestra promove uma revisão histórica necessária, mostrando como artistas brasileiros, entre os anos 1930 e 1980, transformaram essa condição em matéria-prima criativa, muitas vezes subvertendo a lógica colonial da arte hegemônica. A mediação de Dos Anjos tende a revelar as contradições de um sistema que marginaliza certas narrativas enquanto as consome como exotismo.

Ambos os eventos serão seguidos por visitas mediadas à exposição, limitadas a 60 participantes por dia — um número que, apesar de restrito, reflete a necessidade de debates aprofundados em um cenário cultural muitas vezes superficial. A iniciativa do CCBB, ainda que meritória, levanta questões sobre a acessibilidade dessas discussões: será que o público que mais precisa dessas reflexões consegue ocupar esses espaços?

A gratuidade das palestras é um avanço, mas não garante democratização se não vier acompanhada de divulgação ampla e políticas de inclusão efetivas. Enquanto instituições culturais tentam se reposicionar frente a demandas por representatividade, eventos como esses testam até onde o discurso antirracista e anticolonial se traduz em prática. A exposição Arte Subdesenvolvida e suas atividades paralelas são um convite não só à contemplação, mas à desobediência intelectual. Resta saber se o público responderá ao desafio.

Publicidade

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?