Ao longo da minha trajetória profissional, observei algumas vezes um padrão em colaboradores talentosos que, mesmo com potencial, pareciam travar no meio do caminho: a autossabotagem. Um padrão de comportamento predominantemente inconsciente que prejudica interesses e objetivos. Na forma consciente e racional, é difícil entender por que uma pessoa coloca empecilhos em sua própria vida.
É que a autossabotagem quase sempre anda de mãos dadas com a desorganização e não estou falando apenas de uma mesa bagunçada ou de uma caixa de e-mails abarrotada. Falo de uma desordem mais profunda, que começa na mente e contamina toda a rotina.
Tem dias que não sentimos vontade de pegar trânsito ou falar com pessoas. Isso é normal. Noites mal dormidas, problemas familiares entre outros motivos são suficientes para tirar a nossa tranquilidade. No entanto, quando determinadas repetições ocorrem no cotidiano, devemos observar as nossas atitudes.
Os sinais da autossabotagem podem aparecer no comportamento, como procrastinação, perfeccionismo paralisante, fuga de responsabilidade etc. Já os sinais cognitivos surgem com a autocrítica excessiva, com o foco no negativo, na dúvida sobre as capacidades pessoais, entre outros.
No fundo, são formas de se proteger do medo do fracasso, do julgamento, da mudança. Mas essa proteção ilusória gera estagnação, frustração e um ciclo constante de insatisfação.
Para sair desse ciclo, o primeiro passo é encarar a realidade com honestidade. Quais hábitos estão me afastando dos meus objetivos? Estou usando meu tempo da melhor forma? A organização não é sobre rigidez ou controle excessivo — é sobre liberdade. Liberdade para focar no que faz sentido, para dizer “não” sem culpa, para trabalhar com propósito.
Definir prioridades é um exercício de responsabilidade. Significa escolher onde concentrar sua energia e aceitar que não dá para abraçar o mundo. Trabalhar com inteligência é alinhar ações com metas, respeitando limites pessoais e construindo, passo a passo, uma rotina mais leve e eficaz.
Como líder, aprendi que produtividade não é sinônimo de sobrecarga. É fruto de escolhas conscientes. E, muitas vezes, a maior barreira para o sucesso não está no ambiente, mas na forma como nos organizamos — ou não — internamente.
Reconhecer a autossabotagem é um ato de coragem. Mais do que isso, é um convite à transformação. Entender a importância de organizar a vida, estabelecer prioridades, alinhar ideias e honrar compromissos não apenas traz clareza e direção, mas também promove resultados mais consistentes.
[Os textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da Revista Raça].