Ciência, tecnologia e inovação afrodescendente
POR CARLOS MACHADO
Será que um negro já inventou alguma coisa? Negro é inteligente? Se sim, diga um nome de uma cientista ou cientista negro… Por que será que não vem nenhum nome na mente? Este é o tema do livro Ciência, Tecnologia e Inovação Africana e Afrodescendente. Nossa gente negra inventou diversas coisas que fazem parte do nosso cotidiano, mas foram deletadas da memória devido à escravidão, colonialismo, imperialismo e racismo.
Há um vasto legado científico, tecnológico e inovador que mulheres e homens de origem africana e da diáspora legaram e têm dado à humanidade ao longo da história. Na verdade, é impossível saber realmente história da ciência sem também aprender sobre as contribuições dos inventores de origem africana.
Este tema foi pouco divulgado com objetivos estratégicos. Durante séculos criou-se uma imagem negativa a respeito da inteligência da população africana como inexistente e uma gama de intelectuais brancos como Hegel, Montesquieu, David Hume, Immanuel Kant, Lineu, Max Weber, Charles Darwin, Victor Hugo, Voltaire, Georges Cuvier, entre outros, desenvolveram teses afirmando que mulheres e homens negros não são humanos nem dotados de inteligência, não criaram impérios, civilizações e ciência, sendo isto uma prerrogativa do homem branco. Esta ideia não possui fundamentação histórica; a nossa espécie Homo sapiens evoluiu no continente africano entre 300 e 200 mil anos e foi neste continente que foi desenvolvida a tecnologia para o ser humano se desenvolver e migrar para outros continentes, além de criar reinos, impérios e civilizações importantes como o Egito (Kemet), Kush, Etiópia (desde a antiguidade independente), Ndongo, Mali, Congo, Gana, Zulu, entre outros, ao longo de 5.300 anos de história.
Pesquisar sobre ciência africana é ajudar a sanar uma grave falta de conhecimento, comum para a maioria dos brasileiros. Quantos graduados poderiam nomear um cientista negro? Quantos alunos poderiam descrever quaisquer realizações científicas que ocorreram no continente africano? Essa ignorância tem sérias implicações para a autoestima de uma parcela muito importante da população brasileira. Como pensar em ciência africana, quando são apresentados mitos estereotipados da África diuturnamente na TV e internet?
As possibilidades de pesquisa em ciência africana e afrodescendente são quase infinitas. A diversidade de culturas, histórias, tecnologias, inovações, espécies animais e vegetais é enorme e desconhecida do grande público. A maior parte desse potencial e riqueza de conhecimento nunca vê a luz do dia em nosso país e em diversos países do mundo. Que este trabalho incentive os futuros professores de ciências exatas, humanas, biológicas e saúde a incorporar exemplos de ciência africana e de importantes cientistas descendentes de africanos em suas aulas e, assim, ensinar crianças, adolescentes e adultos a ter respeito igual para as realizações de todas as etnias que compõem o nosso país. Devemos estimular as novas gerações a se tornarem livres pensadores e perceber que a ciência é uma parte de cada cultura em todo o mundo. A boa ciência vem em muitas formas e não apenas existe a ciência produzida na Europa Ocidental, Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul.
Alguns desses problemas poderiam ser evitados com a reforma dos currículos de ciência existentes. Embora meu livro lide com a ciência relacionada à África e à população descendente de africanos, é opinião deste escritor que a ciência indígena também deve ser representada no currículo de ciências, atendendo às Leis Federais 10.639/2003 e 11.645/2008 de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.