Ciro volta a negar racismo, ataca MP e promete acabar com ‘mamata’
Uma semana após o Ministério Público de São Paulo pedir a abertura de um inquérito para investigar se o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, cometeu ato de racismo ao chamar o vereador de São Paulo Fernando Holiday (DEM) de “capitão do mato”, o presidenciável minimizou o episódio como “baboseira da política”, negou que tenha sido racista e voltou a afirmar que aqueles que “perseguem a agenda dos negros” são capitães do mato. Em palestra na noite anterior, Ciro havia chamado de “filho da puta” o promotor que o acusou de racismo.
Em entrevista à “Rádio Bandeirantes” na manhã desta quarta-feira, Ciro disse que, ao realizar a comparação com Holiday, estaria defendendo os negros. Para justificar a declaração, o pré-candidato destacou que eles eram escravos libertos contratados para perseguir negros.
— Esse jovem entrou na política dizendo que ia acabar com as cotas, que ia acabar com o Dia da Consciência Negra (feriado na cidade de São Paulo) num país que foi o mais atrasado em revogar a escravidão. E todas as entidades que defendem os direitos dos negros no Brasil, com quem tenho absoluta história de comum trabalho, têm raiva e chamam ele de capitão do mato — disse Ciro Gomes, antes de finalizar: — Onde é que tem racismo nisso?
Além da abertura de inquérito, a declaração dada por Ciro à rádio “Jovem Pan” também motivou a abertura de uma ação civil na Justiça paulista, onde Holiday pede R$ 38 mil de indenização. Na ocasião, Ciro afirmou que o vereador era “um negro usado pelo preconceito para estigmatizar”.
— Esse Fernando Holiday é o capitãozinho do mato. A pior coisa que tem é um negro que é usado pelo preconceito para estigmatizar. Esse era o capitão do mato no passado — afirmou no dia 18 de junho.
Numa palestra na noite desta terça-feira, ao falar sobre privilégios de juízes e promotores, Ciro foi para cima do promotor e disse que acabaria com a “mamata” dos promotores:
— Um promotor aqui de São Paulo resolve me processar por injúria racial. E pronto, um filho da puta desse faz isso. Ele que cuide de gastar o restinho das atribuições dele, porque se eu for presidente essa mamata vai acabar — afirmou Ciro.
O vereador é ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL) e defende que a política de cotas reforça o racismo. Na entrevista concedida hoje, Ciro citou dados sobre a diferença de oportunidades dos negros no Brasil e disse que quem persegue a agenda dos negros é um capitão do mato.
— Um camarada que faz a perseguição da agenda dos negros é um capitão do mato. Ponto final. Tem nada de racismo. Pelo contrário, estou defendendo o combate ao preconceito e ele se prestando ao serviço do preconceito — disse.
Ciro também criticou a judicialização da política. O presidenciável disse ser chamado de coronel porque é nordestino, mas que não procurou a Justiça.
— Política faz política e o Ministério Público, por favor, vá cuidar de enfrentar as facções criminososas. Deixa de ser covarde e cuidar de baboseira da política. Quer aparecer? Bota uma melancia no pescoço. Mas as facções criminosas aqui em São Paulo tem feito acordo com as autoridades nas barbas dos Ministério Público — disse.
Em nota, o vereador Fernando Holiday afirmou que, de acordo com o artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal, a injúria racial consiste em ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem.
“O termo “capitão do mato” é utilizado para estigmatizar somente pessoas negras que não se submetem à “senzala ideológica” de brancos como Ciro que se sentem como senhores de engenho dotados de autoridade para dizer como o negro deve se portar em sua atuação política”, afirmou o vereador.
A abertura de inquérito foi requerida por se tratar, segundo Holiday, de flagrante injúria racial.
“Esperamos que este caso possa colaborar no combate ao racismo em nosso país”, disse.
Em relação às críticas à promotora, o Ministério Público afirmou que a atuação da promotora de Justiça que requisitou a abertura do inquérito policial se deu dentro das práticas da legislação e da Constituição. Para o MP, os termos usados por Ciro para se referir a ela são “completamente inapropriados”.
“Esse trabalho continuará sendo feito com a mais absoluta serenidade, levando-se em conta rigorosos parâmetros de profissionalismo, técnica e impessoalidade”, afirmou.