Clementina de Jesus completaria 124 anos hoje: a voz que nos liga à ancestralidade

Se estivesse viva, Clementina de Jesus completaria 124 anos hoje, 7 de fevereiro. Mais do que uma cantora, ela foi um elo entre o Brasil e suas raízes africanas, uma guardiã da cultura afro-brasileira que, com sua voz marcante e cheia de história, eternizou os jongos, curimbas, sambas e partidos-altos.

Nascida em 1901, em Valença (RJ), filha de ex-escravizados, Clementina cresceu ouvindo os cânticos tradicionais que sua mãe entoava enquanto lavava roupas à beira do rio. Desde cedo, a música fez parte de sua vida, mas sua trajetória artística só começou muito mais tarde. Por mais de 20 anos, trabalhou como empregada doméstica, cantando em festas e rodas de samba, sem imaginar que um dia sua voz seria reconhecida pelo Brasil inteiro.

O destino resolveu agir quando, aos 63 anos, Clementina foi descoberta pelo compositor Hermínio Bello de Carvalho, enquanto cantava na Festa da Penha, no Rio de Janeiro. Ele ficou impressionado com aquela voz grave, ancestral, carregada de história e emoção. A partir dali, a vida dela mudou completamente.

Foi nos palcos do espetáculo Rosa de Ouro, ao lado de Aracy Côrtes, que Clementina ganhou os holofotes e conquistou de vez o público. Diferente das grandes divas do rádio da época, sua voz era crua, poderosa, vinda diretamente das raízes do povo negro. O Brasil nunca tinha ouvido nada parecido.

Clementina gravou 13 álbuns, participou de festivais internacionais, incluindo uma apresentação histórica no Festival de Artes Negras de Dakar, no Senegal, em 1966, e foi reverenciada por grandes nomes da MPB, como Milton Nascimento, Clara Nunes, João Bosco e Caetano Veloso.

Mesmo sem ter vendido milhões de discos, sua presença no palco era arrebatadora. Quem a via cantar sentia o peso da ancestralidade em cada nota, como se as vozes dos que vieram antes dela ecoassem ali.

Clementina partiu em 1987, aos 86 anos, mas sua voz nunca se calou. Ela segue viva em cada roda de samba, em cada canto que celebra a cultura afro-brasileira, em cada artista que se inspira na sua história.

Hoje, ao relembrarmos seus 124 anos, não celebramos apenas uma cantora, mas uma mulher que resgatou e preservou a memória do povo negro no Brasil.

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