Revista Raça Brasil

Compartilhe

Código de Inclusão propõe medidas antirracistas no atendimento ao consumidor negro

Entrar em uma loja, olhar os produtos com calma, ser bem atendido e sair satisfeito com a compra. Para muitos, isso parece básico — mas, para boa parte da população negra no Brasil, essa ainda não é a realidade. Pensando nisso, um grupo de empresas decidiu agir e criou o Código de Defesa e Inclusão do Consumidor Negro.

A proposta nasceu da união entre a L’Oréal Luxo, o Movimento pela Equidade Racial (MOVER) e a organização Black Sisters in Law, que se reuniram para elaborar um documento com 10 propostas concretas para combater o racismo nas relações de consumo.

O Código não é uma lei, mas tem força moral. Ele funciona como um compromisso das empresas que desejam criar espaços mais seguros e justos para os consumidores negros — que, muitas vezes, mesmo sendo maioria nas ruas e nos números de consumo, são tratados com desconfiança, invisibilizados ou até mesmo constrangidos nas lojas.

Um código que nasce da dor – e da esperança

A ideia do código surgiu após uma pesquisa ouvir pessoas negras sobre suas experiências em lojas de beleza de luxo. O resultado foi alarmante: 21 práticas discriminatórias foram identificadas. Entre elas, estão abordagens indevidas, vigilância excessiva, ausência de produtos para peles negras e falta de funcionários pretos nas equipes.

“Quando um consumidor negro entra numa loja e é seguido ou ignorado, a mensagem que se passa é clara: ‘você não pertence a esse lugar’”, afirma a advogada Fayda Belo, que colaborou com o projeto. “Esse código é um passo importante para mudar essa realidade.”

10 passos para transformar o atendimento

O Código traz propostas simples, mas poderosas. Algumas delas são:

  • Treinamentos antirracistas anuais para todos os funcionários;

  • Garantir que todo cliente seja atendido com dignidade e rapidez;

  • Acabar com barreiras físicas e simbólicas que dificultam a circulação de pessoas negras nas lojas;

  • Evitar abordagens constrangedoras, fazendo revistas apenas com provas e de forma respeitosa;

  • Contratar mais profissionais negros, para que os rostos nas vitrines também estejam no balcão;

  • Ampliar a oferta de produtos que atendam às necessidades da pele e do cabelo negro.

“A carne preta vale muito”

Para muita gente, o Código traz um pouco de alívio e esperança. Como Yanca Ellen, que já passou por uma situação traumática em uma loja onde foi acusada de roubo injustamente. “Achei essa iniciativa incrível. Toda loja deveria passar por esse treinamento. Já devia existir há muito tempo”, disse.

Uma mãe, que prefere não se identificar, relembra com dor o dia em que sua filha sofreu racismo ao entrar em uma loja: “É difícil acabar com o racismo, mas dá pra diminuir. A carne preta vale muito”.

Não é só sobre consumo. É sobre respeito.

O professor Moisés Machado, que trabalha com letramento racial em empresas, reforça que o Código pode ajudar a mudar culturas dentro das lojas. “Se o racismo foi ensinado por tanto tempo, ele também pode ser desensinado. Esse tipo de iniciativa educa, transforma, salva”, afirma.

Para Dione Assis, da Black Sisters in Law, o documento vai além do consumo. Ele reconhece que a experiência da população negra precisa ser ouvida, respeitada e protegida. “É uma forma de rever até mesmo o Código de Defesa do Consumidor tradicional, que foi feito sem considerar as vivências da população preta.”

E segundo Bianca Ferreira, da L’Oréal Luxo, o objetivo é que, um dia, esse código nem seja mais necessário. “O sonho é que o respeito seja regra, não exceção.”

Publicidade

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?