Colocando a cara na telinha
Sabemos que a mídia é em grande parte responsável pelo referencial de beleza que assimilamos. Quando pensamos em TV, mesmo a despeito dos avanços no que diz respeito à promoção da equidade racial, os rostos negros não costumam ser destaque. E, pior que isso, a TV brasileira insiste em reforçar estereótipos e disseminar racismo na frente e atrás das câmeras.
Pessoas negras à frente de programas de TV ainda não é comum, mesmo quando esse grupo representa quantitativamente um pouco mais da população de todo o país. Não é à toa que a comunidade negra celebra toda vez que Maria Júlia Coutinho, a Maju, coloca-se na bancada do Jornal Nacional.
Se o espaço é restrito na TV, o acesso à internet, aos smartphones, tablets e a aparelhos capazes de produzir e disseminar rapidamente fotos e vídeos, tem mostrado que é necessário distribuir novas
combativas e antirracistas onde for possível, de modo a ir ressignificando o que é e o que pode significar ser negro e negra no Brasil.
Na telinha, naquela pequena mesmo, que geralmente não tem mais do que 8 polegadas e que não largamos nem para ir ao banheiro, negras e negros estão ganhando espaço… ops, cavando, abrindo espaços e melhor ainda, como influenciadores digitais.
São pessoas negras dando opinião sobre os mais diversos temas. Música, maquiagem, literatura, história, esporte, games. Às vezes, em forma de desabafo, às vezes a partir de um longo processo de estudo ou simplesmente em um exército de expor ideias.
Tem até gente que não começou assim, mas que por um motivo ou outro, além de cantar, dançar, interpretar, enxergou um filão por aí, ou ao menos a oportunidade de falar o que bem quiser em canais próprios. Estes últimos, são os casos da cantora Rihanna, que entre um post e outro sobre maquiagem (para divulgar sua própria marca) ou sobre música, sempre encontra espaço para se posicionar politicamente. Ou da Tia Má, que é jornalista, apresentadora e resolveu usar muito mais que algumas páginas de jornal para influenciar.
Mas, nesse universo existe um segmento muito interessante de influenciadores e influenciadoras digitais negros e negras que sempre colocam a questão racial como pauta de seus diálogos.
E como beleza, identidade e autoestima, temas desta coluna, são fundamentais para desconstruir o racismo, eu tenho os meus influenciadores favoritos.
Aquela gente linda que fala sobre beleza, identidade e autoestima e não se esquiva de denunciar o racismo.
A primeira da minha lista é a Gabi Oliveira, do canal DePretas, no YouTube. Ela arrasa e tem mais de 400 mil inscritos no seu canal. Adoro os vídeos dela, super me identifico e ela muda tudo quando é preciso falar de racismo. Aliás o canal é dedicado a discutir estética negra, bom humor e relações raciais.
Quando alguém dá mancada por aí, ela corre lá e faz um vídeo explicando. Um dos melhores vídeos que ela produziu, na minha opinião, foi sobre apropriação cultural. Ela mandou super bem. Fez um vídeo didático e desqualificou os racistas. Ela fala de branquitude, colorismo e apropriação cultural, com a mesma naturalidade que fala sobre coletor menstrual.
Outro influenciador digital de quem eu sou aproximada é o Tássio Santos, do canal Herdeira da Beleza, que tem quase 200 mil pessoas inscritas.
Ele é jornalista e maquiador profissional. Dá dicas fantásticas e samba na cara da sociedade … ops das marcas que insistem em fazer produtos que não atendem à diversidade étnico-racial da população brasileira. Ele tem um quadro, no seu canal no YouTube, batizado de “O tom mais escuro”. O quadro é dedicado a verificar o último tom disponível de bases de maquiagem. Para isso ele aplica o produto na pele da linda Joice Lima, que tem um tom de pele bem escuro, mas que ele insiste em dizer que não é o tom mais escuro. Em outras palavras, se a base não serve para Joice, não atende à diversidade brasileira, que inclui pessoas pele ainda mais escura.
A minha terceira influenciadora favorita é a Lu Bento, que, ao lado do Léo Bento, seu companheiro, cuida do canal Quilombo Literário, dedicado à literatura negra, africana e infantil. O canal não estourou (tem uns um mil inscritos), mas eles resistem bravamente na função de passar informação sobre livros. Os conteúdos e comentários são super qualificados. Eles realmente sabem do que estão falando e cumprem um importante papel na divulgação de publicações e autores para a nossa comunidade negra.