Com saúde fragilizada, longevos africanos governam à distância
Dois dos mais longevos governantes africanos têm comandado seus respectivos países à distância. Enfrentando problemas de saúde, os presidentes de Angola, José Eduardo dos Santos, e do Zimbábue, Robert Mugabe, passam cada vez mais tempo longe de seus países, gerando uma série de especulações sobre o futuro no comando de suas nações.
No poder há 37 anos, Mugabe voltou, na última sexta-feira, a Cingapura, em sua terceira viagem ao país asiático apenas neste ano. Segundo membros do governo, o presidente, de 93 anos, sofre de fotofobia — e por isso teria sido fotografado de olhos fechados em diversos eventos diplomáticos — e tem viajado para cirurgias nos olhos e exames médicos de rotina. Usando dados do Departamento do Tesouro Nacional do Zimbábue, o diário britânico “Guardian” afirma que, em 2016, Mugabe gastou mais de US$ 50 milhões (mais de R$ 162 milhões) em viagens ao exterior. O valor seria mais que o dobro destinado aos hospitais e centros de saúde do país.
“O país está estagnado porque o presidente comanda o show a partir de uma cama de hospital”, afirmou ao “Guardian” um porta-voz de um dos partidos de oposição do país. A viagem obrigou o Zanu-PF, legenda do presidente, a cancelar um comício para a juventude do qual Mugabe participaria, o que aumentou as suspeitas de que não se tratava de algo planejado. Apesar da saúde frágil, Mugabe diz que pretende viver pelo menos até os 100 anos de idade e manter-se no poder. O Zanu-PF o confirmou como candidato nas eleições de 2018, e a primeira-dama do país, Grace Mugabe, afirmou que o marido deveria concorrer mesmo que morresse antes do pleito, afirmando que “o empurrará numa cadeira de rodas, caso necessário”.
Mugabe chegou ao poder visto pela população local como um herói na luta contra o colonialismo, mas seu estilo autoritário rapidamente fez dele um dos líderes mais criticados em todo o planeta, com frequentes acusações de repressão a partidos opositores, fraudes eleitorais, combate à liberdade de imprensa e diversas violações de direitos humanos no país. No ano passado, o PIB do Zimbábue registrou um crescimento econômico negativo de 0,3%, e o presidente foi alvo de uma série de protestos em todo o país.
Já José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979, também voltou à Espanha, após uma longa temporada no país para tratamentos médicos. Porta-vozes do governo angolano classificaram a viagem como “uma visita privada” e não apresentaram detalhes sobre o estado de saúde do presidente, que não participará das eleições presidenciais agendadas para o mês que vem. A viagem anterior de Santos à Espanha foi marcada por rumores de que o presidente, de 74 anos, teria sofrido um derrame, o que não foi confirmado pelos órgãos oficiais. Ainda assim, o governo angolano admitiu que a visita, no mês passado, fora motivada por questões de saúde.
— Não estamos preocupados. Está tudo bem — minimizou o ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chicoti, à Radio França Internacional. — Na vida isso acontece a todos nós, em algum momento não nos sentirmos bem o suficiente. Por isso ele está na Espanha, mas quando se sentir melhor, irá regressar.
Outro líder africano enfrentando problemas de saúde é o presidente nigeriano, Muhammadu Buhari. Após uma série de visitas médicas ao exterior em 2016, Buhari viajou para Londres em maio, e desde então está na capital britânica. O governo evita dar detalhes sobre o quadro de saúde do presidente, mas reconheceu, em maio, que Buhari recebia tratamento em Londres.