Como o racismo será tratado em Pantanal

Ao assumir o remake de Pantanal, Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, autor da obra original, buscou atualizar aspectos do texto da primeira versão. Um deles diz respeito à segunda família de Tenório (Murilo Benício). 

Murilo Benício comenta personalidade de Tenório de Pantanal
 (Foto: João Miguel Júnior/TV Globo)

Se na trama exibida pela Manchete (1983-1999), o crápula, então vivido por Antônio Petrin, escondia uma outra família por medo da pecha do divórcio, ele agora tomará essa atitude por racismo.

Em entrevista à colunista Cristina Padiglione, do jornal Folha de S.Paulo, o jovem novelista explicou que a primeira versão não tinha essa abordagem da questão racial. 

“A segunda família do Tenório era uma família branca. O divórcio [naquela época] era uma questão muito forte”, disse.

“O Tenório não queria largar a Bruaca [então vivida por Ângela Leal] pra ficar com a Zuleica [Rosamaria Murtinho na primeira versão], mas era nítido que ele era muito mais feliz enquanto marido da Zuleica, em São Paulo, com três filhos homens, que era um valor muito forte para ele, do que com aquela mulher que era uma ‘bruaca’ ignorante e com a Guta [Luciene Adami na original], que é uma filha com quem ele não se dá muito bem”, comentou Luperi, que complementou: 

 “Largar uma família hoje não tem aquele peso que tinha 30 anos atrás. Precisava ter um motivo agora pelo qual o Tenório não assumiria a Zuleica, e nisso, pegando esse personagem que é o nosso antagonista que flerta muito com o imoral, ele tem essa consciência escravagista muito forte dentro dele, de explorar o outro, de ser espertalhão, de dar o golpe, de manter os outros sob o seu jugo. O Tenório é esse cara que poderia ser muito mais feliz com a Zuleica se ele não fosse preconceituoso, se ele não fosse racista, se não fosse tão preso a esses vícios de comportamento que ele tem.”

O escritor destaca, entretanto, que o assunto que será introduzido aos poucos no folhetim, e que só deverá ser totalmente explorado bem mais perto do final.

“Essa questão do racismo vai se apresentando. O Tenório, na estrutura dramática, é como se fosse uma cebola. Ele entra na história e à medida que a Guta [Julia Dalavia] chega, ele começa a se desvendar, quem ele é, camada por camada por camada, até chegar nesse racismo. A gente vai descendo um pouco mais a fundo e mergulhando nesse personagem,mas isso é mais para o final da novela, isso vai se desvendando capítulo a capítulo”, frisou.

Defesa de Jove

Apesar da boa audiência e repercussão de Pantanal, o personagem Jove (Jesuita Barbosa) tem sido criticado por parte do público. Por um lado, há quem reclame do estilo “palestrinha” do personagem. Mas também há reclamações pela escalação de Jesuita, bem mais velho que o jovem que interpreta. Porém, Bruno Luperi defende esses dois aspectos.

“Ele está muito dentro do que o personagem hoje propõe. Eu não acho que ele fugiu [do planejado]. Não acho que é do Jesuíta. Acho que é da decisão que eu tomei, da decisão de texto, definição de personagem. Como tem essa terceira camada, o Jove é produto do tempo dele, ele vive angústias que o Marcos Winter [que foi Jove em 1990] não vivia 30 anos atrás. O Winter era um bon vivant mesmo, debochado, era um outro Jove”, destacou Luperi.

“Eu vejo esse cara com uma questão existencialista muito forte dentro dele. Tá no tom dele, a tristeza, a angústia, que não tinha no original. Nesse momento da primeira pra segunda fase, vêm alguns capítulos de muita aflição, de muita angústia. Então, acho que as pessoas sentiram um pouco aquilo.”

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