Revista Raça Brasil

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Conferência da Igualdade Racial: para que e para quem?

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Zulu Araujo

É Arquiteto, Mestre em Cultura e Sociedade e Doutor em Relações Internacionais pela UFBA. Ex-presidente da Fundação Palmares.

De 15 a 19 de setembro de 2025, em Brasília, será realizada a 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, segundo decisão da Comissão Organizadora Nacional, presidida pelo Ministério da Igualdade Racial. 

Tendo em vista a gravidade da questão racial e da diversidade no mundo atual, por conta da agressiva ofensiva da extrema direita, liderada pelos Estados Unidos, essa deveria ser a Conferência mais importante do país. 

As instituições, as entidades, os grupos, gestores e lideranças do campo do combate ao racismo e da promoção da igualdade racial deveriam estar mobilizados e mobilizando a tudo e a todos, pois é o nosso futuro que está em jogo. 

Isso porque, grande parte das conquistas alcançadas nos últimos 50 anos, no mundo ocidental e em particular no Brasil, por parte dos negros, mulheres, LGBTQI+, ambientalistas, etc. estão em perigo. 

As ameaças de retrocesso, não estão num futuro próximo, mas no presente. O Governo dos Estados Unidos e seus aliados mundo afora, estão avançando em marcha batida e de forma violenta para reduzir essas conquistas a pó. 

No entanto, quem se der ao trabalho de ler as 45 páginas do Documento Base, divulgado pelo Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial – CNPIR, que terá a função de orientar as discussões políticas sobre o tema, terá algumas surpresas preocupantes. 

O documento estabelece que a Conferência terá três eixos de discussão: Democracia, Justiça Racial e Reparação. Temas importantes, sem dúvida alguma.

Mas, trata de forma genérica os temas indicados, sugerindo ao longo do texto, que o leitor busque mais informações para o aprofundamento, numa extensa lista de leis, decretos, relatórios, portarias e documentos.  

No eixo da democracia por exemplo, dimensão das mais importantes e graves do momento político que estamos vivendo no mundo ocidental, em particular o Brasil, nem uma palavra sobre crise democrática que estamos passando. 

Nenhuma análise sobre a agenda conservadora que a extrema direita está impondo e avançando no país, com o apoio inclusive de parte significativa da população negra e pobre, capturada pelo discurso e prática das igrejas evangélicas, nas periferias.  

Nada foi dito sobre o papel, os desafios e os riscos que a democracia está vivendo, desde os dias (quase) trágicos de 08 de janeiro, e a resiliência dessa agenda no Congresso Nacional que chantageia ao vivo e a cores, um governo legitimamente eleito. 

Nada sobre as consequências que um retrocesso dessa ordem trará, não apenas para as instituições democráticas do país, mas principalmente para a sua população negra e pobre.  

O formato e a abordagem do Documento Base, nem de longe se aproxima da gravidade do momento que estamos vivendo, nem muito menos aponta para a necessidade de valorização e defesa da democracia enquanto elemento basilar para qualquer avanço de uma racial ou de direitos humanos. 

É como se o Brasil estivesse vivendo numa ilha de excelência, cuja preocupação maior deva ser sobre uma abstrata “pauta negra” e com a visibilidade das “estratégias de fortalecimento da pauta negra no Legislativo e enfrentar os desafios da participação destes nos espaços do Poder Público”, conforme afirma o documento. 

“É muita volta para nenhuma resposta”  

Como ainda teremos muita estrada para caminhar e muita discussão para fazer, esperamos que as instituições responsáveis pela Conferência (federal, estaduais e municipais) e em particular o movimento negro brasileiro, avance com propostas que de um lado consolide a democracia  e de outro avance na promoção da igualdade racial no país. 

Toca a zabumba que a terra é nossa!  

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