Revista Raça Brasil

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Conferência de Berlim: esquartejamento da África

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Emiliano José

Paulista radicado na Bahia, jornalista, escritor, e imortal da Academia de Letras da Bahia. Formado em Comunicação, Mestre e Doutor. Tem histórica militância política, desde o combate à ditadura militar (1964-1985), como integrante da Ação Popular (AP), passando pelo exercício de mandatos como deputado estadual pelo PMDB-BA (1988-1989), vereador de Salvador pelo PT-BA (2000-2002), deputado estadual (PT-BA) de 2003 a 2005, e deputado federal também pelo PT de 2009 a 2011. Elegeu a defesa das religiões de matriz africana como prioridade e presidiu a Comissão Especial para Assuntos da Comunidade Afrodescendente (CECAD) da Assembleia Legislativa da Bahia (2003 e 2004).

África é um mundo.
Brasil precisa cada vez mais compreender esse mundo. Para compreender a si próprio.

Fico a pensar no significado do colonialismo, na crueldade dele, não me refiro ao período da escravidão, quando pessoas foram transformadas em mercadoria, quando o capital produziu um dos maiores genocídios da história, concluído apenas quando o capital industrial emergiu.

O capital necessitava da mão de obra livre, outro tipo de exploração, compra da força de trabalho e desfrute da mais-valia por parte do capitalista.

Vamos falar do período da caminhada célere do capitalismo para assumir a forma do imperialismo.  As nações do centro capitalista resolvem, assim como quem nada quisessem, e querendo tudo, retalhar o continente africano, esquartejá-lo, dividir África, entre elas, a famosa Conferência de Berlim.

Compreender a evolução de África desde então, incluindo o processo chamado de descolonização, os processos pacíficos e os decorrentes da luta armada, e depois o neocolonialismo, fundado na cooptação das classes dominantes locais, implica lembrar, necessariamente aquele encontro.

Esses dias assisti ao belo e trágico “Trilha sonora para um golpe de Estado”. De como cercam Lumumba e o matam, a cultura, papel essencial no golpe, música, Lumumba, dissolvido em ácido pelos assassinos belgas e americanos.

Fui levado a refletir sobre a fase neocolonialista, impossível abordá-la, no entanto, sem voltar ao passado.

À Conferência de Berlim.

Nos limites deste texto, breve passagem por ela, de modo a contextualizar um período.

África, por se constituir num continente muito rico em minérios, alguns raros e essenciais ao desenvolvimento do capitalismo, em tantas matérias-primas fundamentais, leva as nações dominantes do capitalismo a decidirem dividi-la entre si.

A conferência aconteceu entre o dia 15 de novembro de 1884 a 26 de fevereiro de 1885, organizada e sob a direção de Otto von Bismarck. Este, principal responsável pela unificação alemã, joga um papel essencial na organização da Conferência de Berlim, a escancarar as portas de África para o imperialismo.

O encontro contou com a participação da Alemanha, Áustria-Hungria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Noruega, Países Baixos, Portugal, Rússia, Suécia, além do Império Otomano e os EUA.

Definir fronteiras, garantir a liberdade de comércio ao longo da bacia do Zaire, estabelecer a ocupação efetiva como critério para a posse de territórios em África: os objetivos declarados.

Não se esconde, porque desnecessário: o principal resultado da Conferência foi o estabelecimento de regras oficiais de colonização, como se África fosse um continente sem história, povos sem direitos.

De alguma forma, dar sequência, já sob a fase imperialista, aos séculos de violência enfrentados pelos africanos, quando grande parte foi transformada em mercadoria, o Brasil, maior destino de pessoas escravizadas enquanto durou o tráfico negreiro para as Américas.

Dessa conferência, viria um longo processo, a durar até o final dos anos 1940, quando ganha aceleração a descolonização como decorrência do crescimento do pan-africanismo, das lutas dos povos.

Virão as lutas contra a colonização portuguesa, a libertação de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, como consequência da luta armada em toda a região da África Austral, de que venho me ocupando ultimamente.

Muita história pela frente, e a Conferência de Berlim como marco essencial do esquartejamento de África, até hoje um continente a lutar por se libertar das garras insaciáveis do grande capital, liderado ainda pelos EUA.

Garras cada vez mais enfraquecidas, porque império em decadência, os povos se levantando, lutando para se libertar do imperialismo e das elites cooptadas por ele, também responsáveis pela exploração e dominação de África.

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