Conheça a mulher negra que inspirou a personagem Bibi de Juliana Paes

O sucesso de Bibi, interpretada por Juliana Paes na novela “A força do querer”, da Globo, tem refletido na vida de Fabiana Escobar, a Bibi Perigosa da vida real. Por 11 anos, ela foi casada com Saulo de Sá da Silva, o Barão do Pó da Favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio. E sua história, contada no livro “Perigosa”, foi uma das inspirações da trama escrita por Gloria Perez. Agora, a repercussão dos atos da personagem, que abandonou o curso de Direito para ajudar o marido Rubinho (Emilio Dantas), preso por envolvimento com o tráfico, transformou Fabiana num misto de confidente e conselheira de mulheres que têm um amor bandido. Ela conta ter mais de dez mil seguidores nas redes sociais, a maioria com os maridos atrás das grades.

— Elas se identificam bastante com a história. Não são apenas do Rio de Janeiro, mas de outras partes do Brasil. Muitas escrevem de São Paulo, Bahia, Minas Gerais e do sul do país. Elas dizem: “Bibi, eu preciso conversar porque não dá para falar com quem está aqui do meu lado. Você já passou por isso e vai entender” — conta Fabiana, revelando algumas histórias com riqueza de detalhes: — Teve uma que me adicionou e contou que é advogada. O marido dela foi preso e ela está passando por aquela fase da rejeição de todo mundo. Disse que está até com dificuldade para trabalhar porque as pessoas estão olhando torto para ela. Teve uma outra que me disse estar confusa sobre o que fazer e pediu a minha opinião.

Por conta da vida que Saulo levava, Fabiana também não concluiu o curso de Serviço Social. Ao lado do amado, a verdadeira Bibi recorda que foi do céu ao inferno inúmeras vezes. Em tempos de fartura, chegou a alugar até um helicóptero para jogar flores para o companheiro. Já em tempos difíceis, acompanhou o marido numa desesperada fuga para fora do Rio, até ele ser preso numa praia do Rio Grande do Norte.

Trama da Globo é sucesso nos presídios

A Bibi que inspirou a personagem de Juliana Paes diz ter recebido relatos pela internet contando que a novela também é sucesso no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio. E em cadeias de outros estados!

— A mulher do preso fala: “Meu marido está assistindo, ele quer saber o que vai acontecer, se isso é verdade, se aquilo é ficção’’. Respondo que eu não sei o que vai acontecer. Só Glória Perez sabe. Em Bangu, por exemplo, (Gericinó), a história está bombando. Todo mundo para e vai assistir. Os presos são noveleiros. Elas (mulheres de presos) me encontram no Facebook e chamam logo para o chat. Comigo, todas ficam à vontade — diz.

Fabiana teve dois filhos com Saulo, que continua preso em Gericinó. Ela se separou do marido após descobrir uma traição. A descoberta aconteceu durante uma fuga, quando Saulo confessou o envolvimento com outra mulher. Mesmo assim, Bibi ainda visitou o ex na cadeia por dois anos. Por conta da vida que levava — chegou até a exibir fotos com armas no extinto Orkut — foi investigada pela polícia várias vezes. Atualmente, não mora mais na Rocinha e já está em um novo relacionamento.

— Respondi processo, mas não fui presa. Moro com a minha mãe na Zona Norte do Rio, tenho um namorado e estou feliz vivendo desse jeito — afirma.

Fabiana também usou barriga falsa

Nos próximos capítulos de “A força do querer’’, Bibi vai usar uma barriga falsa para transportar dinheiro, a fim de financiar a fuga de Rubinho do presídio. Um episódio bem parecido aconteceu com Fabiana Escobar. Para ajudar um outro namorado na época da adolescência, que também estava preso, ela forjou uma gravidez e transportou cerca de R$ 83 mil.

Na ocasião, o dinheiro foi todo colocado dentro de um collant que ela vestia. O valor, no entanto, acabou sendo apreendido pela polícia. Mas não com ela!

— Era muito dinheiro e eu estava morrendo de medo. Tive de levar de um lugar para outro. Botei na roupa e fiquei com uma barriga falsa. Mas acabou que tudo isso foi perdido. A mulher recebeu e pegou a grana das outras mulheres, mas foi presa com o montante — recorda.

O que Juliana Paes quer saber sobre Bibi?

Convidamos Juliana Paes e, numa folga das gravações, a atriz fez suas perguntas à verdadeira Bibi Perigosa. Confira suas curiosidades e o que Fabiana tem a dizer.

Juliana Paes – Como é ser representada por outra pessoa? Consegue se distanciar ou se angustia ao reviver?

Fabiana Escobar – É emocionante demais poder ver tudo que aconteceu de outro ângulo. Me vejo o tempo todo na personagem. Quando ela está na tensão, parece que eu estou. Em algumas cenas eu choro junto com ela, em outras eu dou uma gargalhada. Não consigo me distanciar de imediato quando vejo os comentários, pois na verdade, apesar de estarem falando da personagem e da novela, sinto como se estivessem falando de mim e para mim. Mas logo eu controlo o impulso e levo na esportiva.

Juliana Paes – Você teve um Caio (Rodrigo Lombardi) na sua vida? Alguém que sempre esteve ali?

Fabiana Escobar – Não tive um amor presente. Eu já havia amado outro homem, mas ele morreu antes de tudo isso. Nessa história, só existia o amor pelo meu ex mesmo. Não existiu um Rodrigo Lombardi para mim, o que é uma pena! Quem dera!

Sobre as Mulheres negras e o sistema carcerário

A população carcerária feminina aumentou 256% entre os anos 2000 e 2012 informou, hoje (25), o diretor do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Augusto Rossini, órgão vinculado ao Ministério da Justiça. O aumento no caso dos homens foi quase a metade no mesmo período, 130%. Atualmente, 7% de todos os presos no Brasil são mulheres, o que corresponde a algo em torno de 36 mil detentas. Há mais de 550 mil pessoas em presídios no país e um déficit de 240 mil vagas, das quais 14 mil são para mulheres.

O diretor participou do seminário Inclusão Produtiva nos Presídios Femininos do Centro-Oeste, na 6º edição do Latinidades – Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha. De acordo com Rossini, dois fatores importantes para o aumento da população carcerária feminina são o crescimento da participação da mulher em diversas atividades, inclusive na criminalidade, e o repasse de atividades criminosas à mulher, por cônjuges, namorados ou irmãos, quando eles mesmos são presos. A maioria das detenções estão relacionadas com o tráfico de drogas, sem registros de criminalidade associado à violência.

Dados do Ministério da Justiça mostram que o perfil das mulheres presas no Brasil é formado por jovens, dois terços do total têm entre 18 e 34 anos; negras, 45% são pretas ou pardas, de acordo com a nomenclatura do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); responsáveis pelo sustento da família, 14 de cada 15 mulheres; e com baixa escolaridade, 50% têm ensino fundamental incompleto.

Esse perfil reforça a ideia que as presidiárias são marginalizadas e que, quando retornam à sociedade depois de cumprida a pena, têm dificuldade de se inserir no mercado de trabalho, o que intensifica a reincidência no crime. A chefe da Diretoria de Operações Femininas da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), do Mato Grosso do Sul, Jane Stradiotti, disse que 40% da população carcerária realiza algum tipo de trabalho nas penitenciárias. Se contabilizados os casos de regime semi-aberto, o percentual sobe para 88%.

Para a secretária de Avaliação de Políticas de Autonomia Econômica das Mulheres, da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Tatau Godinho, a construção das perspectivas profissionais das mulheres nos presídios depende de uma combinação com ações relativas à maternidade.

“Nós sabemos que não há igualdade e possibilidade de emancipação se não tivermos uma forma de que isso venha combinado à maternidade. Para que a encarcerada tenha tranquilidade, tem de saber que seu filho está sendo cuidado como o cidadão integral que tem o direito de ser. Não adianta fazer curso de capacitação se não criarmos um ambiente para que as crianças fiquem. Caso contrário, há evasão”, explicou Tatau.

Fontes: Extra e EBC

 

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Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.

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