Conheça Fayda Belo, nossa Annalise Keating

Texto: Isadora Santos

Sucesso nas redes sociais, a advogada Fayda Belo explica o que pode e o que não pode de acordo com a legislação penal brasileira

Se na ficção Viola Davis deu verdadeiras aulas de atuação, com sua personagem Annalise Keating, na série How To Get Away With Murder. Na vida real, os brasileiros têm a sua própria Annalise compartilhando talento, simpatia e dicas importantíssimas sobre direito nas redes sociais.

A advogada criminalista Fayda Belo está conquistando cada dia mais “crimilovers”, como carinhosamente chama seus seguidores. Natural de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, ela já acumula quase dez milhões de seguidores no Tik Tok e mais de 130 mil no Instagram. 

“Eu vi que o Direito é um tema em que pese ser relevante ao mundo inteiro. É uma área muito longe, muito longe da realidade do povo. Por quê? Porque o povo que trabalha com Direito usa uma linguagem rebuscada, parece que quer realmente que as pessoas não entendam o direito.  E aí eu falei assim ‘Bom, eu acho que eu vou então usar o conhecimento que eu tenho, o jurídico, para explicar o direito de uma forma simples, que alguém que tenha o diploma entenda, mas que alguém que nunca foi à escola entenda, e alegre, rápida e dinâmica’. E aí, menina, engrenou (risos), deu super certo!  Porque foi com a ideia de ajudar as pessoas mesmo, o que pode e o que não pode. E aí parece que as pessoas realmente acharam razoável e o negócio cresceu”.

E cresceu tanto que Fayda Belo já é conhecida como a Annalise Keating brasileira. 

“Menina, você vê que honra. Você vê que honra. Porque, assim, a mulher, a Viola Davis, é um ícone como mulher, como negra, como atriz. Tem uma história muito próxima à minha história. Então para mim é uma honra muito grande”, celebra. 

A advogada, que é especialista em crimes de gênero, direito antidiscriminatório e feminicídio, falou sobre como ser uma mulher preta a aproxima das questões nas quais se especializou: “Então, sempre que eu falo sobre esse assunto, eu informo que a gente precisa lembrar que eu sou uma mulher preta, que nasceu no morro. Então assim, que arrumou um diploma em Direito graças a uma bolsa, porque eu era muito pobre, então não dá para eu estar onde estou e olhar isso tudo que eu vivi, que eu cresci olhando e falar assim ‘Não, hoje estou em outro nível’. Não existe isso. Eu quis ser o que eu sou para dar voz, justamente, às pessoas que eram ‘eu’ ali atrás. Então eu uso o diploma que eu tenho, o ofício que eu tenho para ajudar as mulheres que são vítimas de violência, de estupros e abusos como eu fui, como minha mãe foi e também ao público que é vítima de racismo. Como eu fui e ainda sou. É uma luta que arrasta uma vida inteira”, complementa Fayda.

A nossa Annalise Keating da vida real não esperava que o sucesso nas redes sociais pudesse acontecer tão rápido. Ela conta que começou a produzir conteúdo de maneira despretensiosa e esperava que seus vídeos demorassem a viralizar. “É algo que eu não aguardava. E quando eu comecei a gravar, a criar, isso foi há meses atrás. Não tem anos. A ideia era essa mesmo, era só usar a voz e o que eu sei para poder explicar o direito. Eu não tinha nenhuma ideia que isso iria explodir”.

“Eu advogo porque eu acredito no que é justo”

Fayda também advoga em casos pro bono, trabalhando voluntariamente com pessoas vítimas de discriminação. “São mulheres vítimas de violência e racismo”, explica. “Como eu disse, eu não advogo porque eu pensei um dia em ficar rica. Eu advogo porque eu acredito no que é justo”.

Aproveitando nossa conversa com a advogada, pedimos duas dicas importantes para situações que, infelizmente, são corriqueiras na vida de pessoas LGBTQIA+ e pessoas negras.

Situação 1: O que fazer quando está sendo seguido pela equipe de segurança de um estabelecimento comercial e, em seguida, sofrer uma abordagem.

“Eu falo sempre que o crime mais complicado no Brasil de se arrumar provas chama-se racismo estrutural. Que é aquele onde o negro é olhado já como alguém que está ali para realizar um crime, porque o racista não diz assim ‘Eu achei que você roubou porque é preto’, ele acha, mas ele não abre a boca. E como é que eu vou provar isso? O que eu oriento é que leve sempre uma câmera junto. Grave. E não deixe de registrar um B.O. Porquê? Se isso é em uma loja, há câmeras lá e se eu tenho uma câmera onde tenha alguns usuários brancos ali dentro e eu abordo o único negro, eu ligo isso ao racismo”. 

Situação 2: Uma pessoa trans está passando pela rua e ouve um comentário homofóbico. É possível denunciar? Como fazer?

“Sim. Falam muito sobre ‘Ah Fayda, mas foi só uma implicância’. Não. Quando todo mundo começar a gastar o réu primário, eles vão ver onde mora o respeito ao próximo. Então se eu estou mandando ali alguém grita algo. Ligue 190 na hora. Flagrante. Prisão em Flagrante. Não vá embora. Ligue na hora, que ele ou ela, vai ser preso em flagrante. 

Quando perguntada sobre quem é sua inspiração no direito, ela rapidamente responde:Annalise Keating”. E continha:  “Vou ser muito honesta, se você me perguntar se eu tenho algum eu vou dizer que não, porque eu ainda não achei alguém que faça, como é que eu vou dizer, com o feeling que eu faço. Que é bem oposto aos outros advogados, né. Então assim, eu amo Annalise Keating. Eu vi a série 50 vezes. E eu falava ‘nossa, eu ali, em um filme e entrando brava, em pé e tal’. Então, assim eu acho que ela inspira muito”.

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