Crianças influenciadoras: Qual o limite para elas nas redes sociais?
Você já deve ter visto inúmeros perfis de crianças no Instagram e no Tik Tok. Elas fazem dancinhas e falam coisas fofas e engraçadas. Já no YouTube, um tipo de conteúdo bem específico “estrelado” por crianças costuma fazer muito sucesso entre os pequenos espectadores. Elas reagem aos brinquedos que recebem em casa e que são enviados por diferentes marcas.
Esse é um fenômeno nas redes sociais, que precisa ser acompanhado com muito cuidado pelos pais e responsáveis, priorizando o bem-estar emocional desses pequenos influenciadores.
Antes de entender o cotidiano de crianças influenciadoras é importante pontuar que existe uma série de restrições para canais infantis no YouTube. A jornalista e pesquisadora do tema, Natália Braga, explica que, desde 2018, a plataforma fechou a caixa de comentários de canais de crianças e também desabilitou a opção de salvamento desses conteúdos. Segundo ela, a plataforma segue a legislação americana, onde está a sede da empresa, já que é proibido que se faça uso de dados gerados por crianças.
A pesquisa realizada por Braga manteve o YouTube como foco principal das investigações, mas ela conta que ainda existem questões importantes a serem discutidas nas demais redes sociais, como a hipersexualização e adultização dos conteúdos, principalmente através das danças que viralizam nas redes.
“Além de querer saber o cotidiano dessas famílias de influenciadores, eu queria fazer o caminho de entender como é que está a publicidade. Se é mesmo uma publicidade revelada, se tem marca pedindo a essas famílias não usarem as hashtags ou nenhum tipo de elemento que faça com que as pessoas identifiquem que aquele tipo de conteúdo foi patrocinado.
Foi com essa questão que eu comecei a minha pesquisa” explicou Braga.
PRODUÇÃO DE CONTEÚDO PARA CRIANÇAS NAS REDES SOCIAIS
De acordo com pesquisa da TIC Kids On-line 2017, compartilhada pela organização Criança e Consumo, iniciativa do Instituto Alana que atua para garantir os direitos das crianças: 74% das crianças de 9 a 10 anos e 82% entre crianças de 11 a 12 são usuárias de internet no Brasil. Sobre o uso, 84% das crianças de 9 a 10 anos assistem a vídeos, programas, filmes ou séries.
No mesmo artigo, publicado pelo Criança e Consumo ‘Unboxing: crianças fora da caixa’, são apresentados dados sobre produção de conteúdo para crianças no YouTube produzidos pelo ESPM Media Lab: “O levantamento indica que, até o fim de 2017, a audiência do conteúdo voltado ao público infantil na plataforma ultrapassou os 115 bilhões de visualizações. Entre os 100 canais de maior audiência no YouTube Brasil, mais da metade traz conteúdos voltados e/ou consumidos por crianças”.
ZONA CINZENTA
É considerada zona cinzenta quando crianças e adultos têm dificuldade de identificar o que é publicidade do que é uma ação espontânea de um youtuber e as marcas se aproveitam dessa brecha para publicizar conteúdo.
UMA CRIANÇA QUE RECEBE UM PRESENTE DE UMA MARCA E ABRE DURANTE UM VÍDEO ESTÁ FAZENDO PUBLICIDADE?
“Hoje, com essa pesquisa, eu entendo que, por mais que seja de certa forma paradoxal, a gente pelo menos pode assumir que o tempo todo essas crianças influenciadoras estão trazendo um discurso e uma prática publicitária. Elas podem não estar lucrando com isso, mas o apelo publicitário existe. Quando uma das principais atividades e uma das principais brincadeiras dessa criança acaba sendo desembrulhar os presentes que ela recebe de marcas e toda essa fantasia que as crianças têm em torno dos presentes recebidos. Nos últimos anos temos chegado em um patamar que a produção desses vídeos de brincadeiras é extremamente realista”, conta a pesquisadora Nathália Braga.
A jornalista conversou com pais de youtubers mirins sobre a questão dos recebidos e entendeu que muitas dessas crianças não ficam deslumbradas com a quantidade de brinquedos que recebem, porque eles chegam rápido e o pico de interesse também passa rápido. Além disso, nas escolas o fator glamourização não existe porque a possibilidade de criar conteúdo para a rede é algo acessível para essa nova geração.
Também é preciso levar em consideração que, para muitas crianças pobres, os vídeos em redes como Tik Tok abriram a possibilidade de mudar a realidade em que viviam, conquistando conforto para suas famílias.
O que podemos entender é que, mais do que a geração de conteúdo por crianças nas redes sociais é algo que já está estabelecido socialmente e que precisa de regulação para continuar acontecendo, isso ajuda a garantir a integridade de quem produz e de quem assiste.
Conversando com a jornalista e pesquisadora Nathália Braga, percebemos que, em muitos casos, o “trabalho” dessas crianças como influenciadoras começa de maneira despretensiosa, porque querem gravar vídeos para internet e com o alcance que ganham, conseguem visibilidade entre as marcas.