CRIANÇAS NEGRAS E A FORÇA COM A IDENTIDADE DO CABELO

DOIS MIL E DEZOITO. É UMA SEXTAFEIRA ENSOLARADA NA MANHÃ DO AMENO VERÃO PAULISTA.SÃO SEIS HORAS DA MANHÃ QUANDO SÍLVIO SALGADO, 37 ANOS, LEVANTA E COMEÇA PREPARAR O CAFÉ. ANA PAULA FERNANDES, 30 ANOS, LEVANTA MEIA HORA DEPOIS. ENQUANTO ISSO, MARIA ALICE, 3 ANOS, JÁ ESTÁ DE PÉ, ANSIOSA. SABE QUE É DIA DE IR AO SALÃO DE BELEZA, DIA DE FAZER UM DOS PENTEADOS QUE MAIS AMA, DIA DE COLOCAR TRANÇAS COLORIDAS E SAIR LINDA PELAS RUAS DE SANTO ANDRÉ, NA GRANDE SÃO PAULO, ONDE RESIDEM. HORAS DEPOIS, MARIA ALICE ESTÁ COM TRANÇAS ROSA. CHAMA ATENÇÃO POR ONDE PASSA, É ELOGIADA PELOS VIZINHOS E FAZ SUCESSO COM OS COLEGUINHAS DA ESCOLA. OS OLHOS BRILHAM, ESTÁ FELIZ DA VIDA.

ESSA ROTINA COMEÇOU HÁ UM ANO, MAS O INÍCIO NÃO FOI BEM ASSIM

“Quando comecei a levar a Maria Alice ao salão de beleza, ela não gostava e até resmungava para não colocar as tranças, mas eu sabia que isso iria acontecer porque esse processo não é fácil. A primeira vez que qualquer um faz esse tipo de penteado, dói. Mas eu sei da importância que isso terá na vida dela”, relata Ana Paula Fernandes, que hoje é stylist da agência de modelos infantil Max Fama. “Eu sempre tive liberdade para ser quem sou e quero que seja dessa forma para a minha filha. Isso passa muito pelo cabelo, pelos penteados. É uma identidade muito forte da nossa raça e hoje ela entende. Ela ama fazer tranças coloridas e se diverte pelas ruas do bairro”, finaliza.

Histórias como essa são cada vez mais frequentes no nosso dia a dia, diferente de décadas atrás, quando a maior parte da população negra sofria preconceito por qualquer penteado que fosse diferente dos padrões impostos pela sociedade.

“Eu sofri muito quando era criança pelo simples fato de ter cabelos curtos e crespos”, lembra a artesã, Daniela Rodrigues, 40 anos, mãe da modelo, Paloma Estrela, 9 anos.

“Converso bastante com a minha filha sobre isso. Sei bem o que passei e quero uma infância diferente para ela. A Paloma tem total liberdade de escolha dos penteados que vai usar e, geralmente, nós fazemos em casa. É um momento nosso.”

A força com a identidade do cabelo afro fez crescer o número de salões de beleza nos últimos anos. Não é preciso andar muito pelas grandes cidades do Brasil para encontrar referências no assunto. Um deles é o Salão Preta Brasileira, localizado na zona leste de São Paulo.

“O meu desejo sempre foi ter um espaço com prestação de serviço que tivesse como carro-chefe o cabelo afro, que explorasse todas as possibilidades de penteados”, relata a empresária e fundadora do salão, Leia Abadia. “A nossa missão é atender ao desejo de cada mulher, de cada criança. Queremos quebrar estereótipos e tabus. Queremos empoderar nossas futuras gerações e mostrar que tudo é possível”, finaliza.

Empoderar! Palavra que ganhou força nos últimos anos e tem um significado muito importante nesse processo. Os dicionários definem “empoderar” como: conceder ou conseguir poder; obter mais poder; tornar-se ainda mais poderoso (Dicionário Online de Português) ou a ação coletiva desenvolvida pelos indivíduos quando participam de espaços privilegiados de decisões; de consciência social dos direitos sociais ou conscientização; criação; socialização do poder entre os cidadãos; conquista da condição

e da capacidade de participação; inclusão social e exercício da cidadania (Dicionário Informal).

NÓS VAMOS ALÉM E ACRESCENTAMOS: “VOCÊ PODE TUDO E PODE SER COMO VOCÊ QUISER”.

Muita coisa mudou com o passar do tempo. Os espaços estão sendo conquistados e devemos encorajar cada vez mais os nossos pequenos. Foi para mostrar como a nova geração chegou quebrando todas as barreiras que, em parceria com a agência de modelos infantil Max Fama e o Salão Preta Brasileira, fizemos este editorial com toda a força e variedade do cabelo afro infantil. É para se divertir. É para se identificar. É para encorajar. É para morrer de amor. É o poder!

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