Cultura Negra e Turismo na Bahia
O Centro Histórico da cidade de Salvador nunca esteve tão cheio de turistas nacionais e estrangeiros. Os números publicados pela Embratur confirmam isso.
O aumento da presença de turistas internacionais na Bahia foi da ordem de 52.8%, fazendo com que o Estado passasse a liderar o turismo internacional no Nordeste brasileiro.
A cidade de Salvador, tida como a cidade mais negra do mundo, fora do continente africano, está seguindo o mesmo caminho. Teve um aumento de 54% na sua receita de turismo, comparado ao ano de 2023. Mais de cinco milhões de turistas visitaram a cidade nos primeiros sete meses de 2024.
E a perspectiva para o verão e o ano de 2025 são as melhores possíveis. Os navios turísticos não param de aportar no porto e a cidade está vivendo o seu grande boom pós pandemia. E o grande atrativo do turismo na cidade do Salvador, além das suas belezas naturais, é a cultura, em particular a cultura negra.
Os ensaios dos blocos afros no Centro Histórico de Salvador, estão lotados, são milhares de pessoas (turistas brasileiros e de várias partes do mundo, que toda semana vão ao Pelourinho para verem o Cortejo Afro e Olodum, com suas batidas rítmicas singulares encantarem os nativos e turistas.
É a cultura negra gerando emprego e renda para os trabalhadores da cultura da Bahia.
E ao falarmos sobre geração de emprego e renda, num estado pobre como a Bahia, não há como excluir a contribuição da cultura negra, que além de propiciar uma variedade imensa de manifestações culturais por todo o estado, concentra em Salvador, um dos maiores polos culturais da América Latina.
A programação cultural disponível na cidade é rica, variada e multifacetada. Toda ela ancorada nas manifestações culturais de origem negra. Tem de tudo um pouco: roda de capoeira, roda de samba, debates e discussões o afro-turismo, exposições, desfile de moda afro, audiovisuais, memórias históricas e uma gastronomia afro-baiana de primeiríssima qualidade e rodadas de negócios.
Claro que esse boom turístico não está caindo do céu como se fosse um milagre. Tem muito trabalho e mui apoio, tanto interno quanto externo: o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Embratur e as Secretarias de Turismo do Estado e do Munícipio. Dois projetos bem estruturados expressam esse apoio institucional: o Salvador Capital Afro e o Axé Verão 40.
É o Centro Histórico de Salvador sendo o palco do novo destino turístico brasileiro, como diria o Olodum em sua antológica- “E, eu vou, na sexta-feira eu vou. Vou subindo a Ladeira do Pelô”. Ou seja, é a cultura negra alavancando a economia do Estado e em particular da cidade do Salvador, por meio do turismo, até porque o turismo tem sido um dos segmentos econômicos dos mais importantes tanto para Salvador quanto para a Bahia.
Mas, é importante dizer e exigir, que para além de encher os bolsos do trade turístico (rede hotéis, bares e restaurantes), com esse boom, os frutos desses investimentos precisam alcançar aqueles que criam e produzem essa cultura – ou seja a população negra da cidade do Salvador.
Até porque, é essa gente negra que apesar de fazer girar essa roda da fortuna há séculos, quase sempre fica de fora.
Enfim, valorizar a cultura negra da Bahia, que agrega, reúne, cria e difunde o que tem de melhor em nossa terra, não pode ficar restrito a elogios e aplausos. É preciso dindim no bolso.
Toca a zabumba que a terra é nossa!