Cultura: um desafio estratégico, social e racial

POR MAURICIO PESTANA

Quanto gira a indústria da cultura em nosso país? Quanto ela traz de divisas e movimento à economia? Quanto ela emprega e, acima de tudo, qual a sua relevância no PIB brasileiro? Onde o Agro aparece como o grande o herói e o teto dos gastos para matar a fome de milhões de pessoas aparece como vilão neste momento histórico ao qual foi colocado em nosso meio a cultura do ódio?

O Ministério da Cultura, sucateado nos últimos anos por um governo que sempre foi de corpo e alma avesso à cultura brasileira, sofreu os efeitos do descaso público somado ao período de pandemia.

O setor cultural foi o primeiro que fechou por conta da Covid-19, deixando milhões de pessoas ao Deus dará.

Foram artistas, produtores, diretores, profissionais de base (como os de luz, câmera, maquiagem, marcenaria, montagem e etc), impactando diretamente a indústria do entretenimento — que, no Brasil, segundo dados setor, emprega mais de 5 milhões de pessoas, direta e indiretamente, sendo responsável por parcela significativa do nosso PIB.

De uma apresentação erudita no teatro Municipal ao carnaval das grandes, médias e pequenas cidades brasileiras, aos barzinhos dos bairros boêmios ou bailes funks da periferia, essa indústria gera milhões de empregos, renda e influencia diretamente o caráter e a personalidade brasileira no exterior, fazendo com que nosso país seja conhecido como um dos lugares mais alegres e receptivos do mundo, impactando diretamente em todos os outros negócios da economia, começando pelo turismo.

Aqui se come, veste e respira cultura, tendo esse importante ativo a influenciar praticamente todas as áreas do desenvolvimento do país.

Este deve ser o foco do Ministério da Cultura nos próximos anos, o órgão que será erguido do “quase nada”, uma terra arrasada pelo descaso; a falta de investimento em um período de pandemia que deixou o setor a própria sorte.

Os números são assustadores: segundo dados do setor, mais de 350 mil eventos deixaram de ser executados em 2020. Um terço das empresas fechou. O impacto foi tão grande que nem a indústria televisiva ficou de fora, dispensando centenas de profissionais de sua cadeia produtiva.

Mas como diz uma frase famosa da socióloga liderança do movimento negro Sueli Carneiro: “nada vem para os negros e negraS no Brasil de mão beijada, a bola sempre vem quadrada”.

E, em meio ao desafio de levantar essa casa, essa terra arrasada, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva convocou uma mulher, negra e baiana para uma das tarefas mais dignas de seu governo: devolver o orgulho, alegria e o respeito que o brasileiro tinha diante de si e do resto do mundo.

Obviamente, como era de se esperar, diferente de qualquer outro nome branco indicado pelo presidente, a futura ministra teve sua vida particular, física e jurídica devassada, vasculhada e exposta como nunca, ou, melhor, como já aconteceu em outros momentos quando uma pessoa negra é convocada para um cargo como este, principalmente, se estiver algum recurso financeiro em jogo, mesmo que seja um dos menores orçamentos da União.

Margareth Menezes, que agora vai contar com o maior orçamento que a cultura pôde obter até os dias de hoje, terá também a maior tarefa que o setor da cultura obteve até os dias de hoje: colocar um Ministério destruído de pé, mas também resgatar, por meio da cultura, uma coisa que só a cultura pode fazer — e isto não tem preço — o orgulho de ser brasileiro!

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