Revista Raça Brasil

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Cyda Moreno expõe o etarismo no meio cultural

Aos 61 anos, Cyda Moreno não se contenta em apenas ocupar espaço na cena artística — ela o transforma. Com mais de quatro décadas de carreira, a atriz e produtora desafia os limites impostos pelo etarismo e pelo racismo em uma indústria que ainda trata a maturidade feminina, especialmente a das mulheres negras, como um obstáculo e não como uma narrativa potente. Em Dona de Mim, onde interpreta Yara, a avó da protagonista Léo (Clara Moneke), Cyda traz à tona uma figura que escapa dos clichês: uma idosa presente, afetuosa e dona de sua própria história, longe da caricatura da “velhinha frágil” ou da figura decorativa.

Apesar de reconhecer pequenos avanços, como produções que deram protagonismo a atrizes maduras — Aquarius, com Sônia Braga, e Vitória, com Fernanda Montenegro —, ela não hesita em apontar a disparidade de tratamento. “Homens grisalhos são vistos como charmosos; mulheres com cabelos brancos, como ‘velhas demais’. Por isso tantas recorrem às tinturas, como se envelhecer fosse um crime”, critica. O mercado, segundo ela, ainda opera com um duplo padrão: enquanto atores homens ganham papéis complexos com a idade, atrizes são pressionadas a parecerem jovens ou relegadas a personagens sem relevância.

Ciente dessas barreiras, Cyda decidiu não esperar por oportunidades. Como produtora teatral, assumiu o controle de sua própria trajetória, criando projetos que a colocassem no centro. “Se a gente ficar dependendo do mercado, a frustração é certa. Aprendi que, como artista negra e madura, preciso ser também autora da minha história”, afirma. Essa postura reflete uma resistência prática contra o apagamento sistemático de corpos como o seu.

Embora celebre a presença mais frequente de personagens idosos em produções recentes, como Amor Perfeito e Vai na Fé, ela ressalta que ainda há um abismo entre a ficção e a realidade. “A sociedade está cheia de mulheres maduras ativas e donas de suas vidas, mas a TV insiste em retratá-las como figuras limitadas”, diz. Para quem está começando, seu conselho é claro: “Não esperem permissão. Estudem, criem, produzam. O mundo tem espaço para todas as histórias — desde que a gente ocupe.” Cyda Moreno não pede passagem. Ela abre caminho.

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