Dengo Ancestral: o seu conceito e sua relevância para a Comunidade Preta

O que é ‘dengo ancestral’? 

Para o escritor baiano Davi Nunes, trata-se de um “signo portentoso e conjuga em seu interior a palavra chamego, é a família preta em celebração do quilombo íntimo, é a África na origem, o sopro da criação original no ouvido a trazer placidez e beleza ao coração”.

Pois esta perfeita tradução do ‘dengo ancestral’ é necessária para expressar os nobres objetivos do casal Ana Paula Evangelista e Durval Arantes, do grupo Intelectualidade Afro-brasileira, que fundaram e administram este grupo na plataforma Facebook desde 2012, e de vários outros eventos nos últimos anos que tiveram e têm como objetivo promover encontros em torno de atividades culturais que celebram o amor, a arte e a cultura, ações comunitárias, a gastronomia, enfim, a origem africana da comunidade do Brasil.

Dois destes eventos tiveram grande destaque, nos últimos 3 anos: a exibição do filme ‘Pantera Negra’ durante o evento ‘Sessão Black’ que ocorreu na capital paulista em 2018, e o “I Jantar Black: Uma Celebração do Dengo Ancestral” que aconteceu também em São Paulo em novembro do ano de 2021.

No primeiro evento, a intenção foi a de reunir cinéfilos para assistir ao filme citado, o qual se revelou um grande sucesso de público e crítica, em uma sessão especial organizada para o entretenimento da comunidade preta. 
Já o ‘I Jantar Black’ que reuniu diversos casais afro-centrados ilustres e anônimos no restaurante paulistano Biyou’Z, de culinária dedicada à gastronomia africana, e que também entrou para história por, além de ser um evento gastronômico, evidenciou-se como uma oportunidade de reconhecimento da ancestralidade africana pelas vias do afeto e da cumplicidade amorosa.

Na ocasião, casais como a modista Ednéia Carvalho e o seu esposo, o advogado e escritor, Silvio Almeida; entre outros, tais como a educadora Raquel Oliveira Machado e o seu esposo, o professor, pesquisador e historiador Carlos Machado, a CEO do Empregue Afro, Patrícia Santos, e seu companheiro Paulo Dias, prestigiaram o evento com muito glamour e representatividade.  E todos os casais presentes exerceram o seu protagonismo com muita elegância e charme durante toda a noite do evento.

Os 25 casais se reuniram em uma noite memorável para celebrar não só o ‘dengo’ que os uniu, como também para potencializar a solidariedade, o espírito de luta, os quais, desde sempre, existem na origem dos povos africanos.

O evento também se configurou em um exemplo real e concreto da potência do conceito de circulação do “black money” circulando entre pessoas pretas.Várias marcas e empreendimentos administrados por pessoas pretas alinharam forças tanto com a Sessão Black de 2018 quanto ao Jantar Black 2021.

E, caso as condições sanitárias assim o permitam, o grupo Intelectualidade Afrobrasileira já está em organização de eventos igualmente potentes para o próximo ano.

Vale ressaltar que o “I Jantar Black”, realizado em um restaurante africano da cidade de São Paulo, dentro do calendário de comemorações do Mês da Consciência Negra foi um grande sucesso de público e de crítica.  Cem casais que não conseguiram reservar mesas no prazo estipulado, aguardam ansiosos a próxima celebração a qual, segundo os organizadores, já está sendo solicitada para o ano de 2022.

Promover ações que enalteçam o Dengo Ancestral é fundamental, sobretudo, para o resgate da autoestima das pessoas pretas, as quais tem a sua história sempre contada tendencialmente a partir do período da escravidão, ou seja, por muito tempo a história mostrou a disfuncionalidade da família preta. 

A televisão, o cinema e a publicidade do mainstream, por exemplo, sempre ocultaram as relações afetivas de pessoas pretas ou a estereotiparam mostrando, em especial, a mulher negra como amante, o homem negro como violento, ou similar. 

Em novelas, filmes e livros em geral, é “comum” vermos representatividades pretas que não têm família ou sempre estão no contexto de uma família, normalmente branca, que as acolheram. 

Outro aspecto amplamente discutido durante o jantar foi o sentimento de pertencimento: muitas das pessoas presentes ao jantar narraram que geralmente não encontram os seus pares, ao frequentarem restaurantes, que estivessem na qualidade de clientes nesses espaços. 

Estes são apenas alguns dos muitos motivos que tornam iniciativas como o I Jantar Black essencial e que provocam uma discussão mais ampla do dengo ancestral (o nosso supremo dengo).
Um tema, portanto, complexo e pouco difundido, estratégico e necessário para o nosso povo.

Ana Paula, a organizadora dos eventos Sessão Black e Jantar Black atesta que “não precisamos ocupar espaços, podemos criar quaisquer coisas que quisermos. O “não” da sociedade nós já temos sistematicamente, já passou da hora conquistarmos o “sim, nós podemos”!

Durval Arantes, o fundador do grupo Intelectualidade Afrobrasileira afirma que “o Jantar Black atendeu às expectativas e às demandas de entretenimento e sociabilidade de seu público alvo e seguramente ele nasceu pra fazer parte do calendário de exaltação e valorização das famílias pretas de São Paulo e do Brasil”.

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