No Dia dos Namorados, resgatamos a histórica campanha do MNU que, em 1991, convocava: “Reaja à violência racial, beije sua preta em praça pública”. Mais de 30 anos depois, o direito ao afeto ainda é resistência.
“Reaja à violência racial. Beije sua preta em praça pública”. Foi com esse chamado direto, publicado em 1991 no jornal Nêgo, do Movimento Negro Unificado (MNU), que uma das campanhas mais simbólicas sobre o direito ao afeto entre pessoas negras foi lançada no Brasil. No mês em que se celebra o Dia dos Namorados, a frase ressurge como lembrete de que amar – sobretudo amar sendo negro – é também um ato político.
A frase fazia parte de um anúncio publicado na página 11 da edição nº 19 do jornal do MNU, entre maio e julho de 1991. O texto dizia:
“REAJA À VIOLÊNCIA RACIAL. BEIJE SUA PRETA EM PRAÇA PÚBLICA.” (Jornal Nêgo, nº 19, 1991)
Mais de três décadas depois, a provocação do MNU permanece atual. O racismo ainda é presente, inclusive nas relações afetivas – seja na fetichização de corpos negros, na solidão imposta às mulheres negras, ou na marginalização de casais negros em campanhas publicitárias e narrativas midiáticas.
Para a escritora e teórica feminista bell hooks, “o amor é um ato de vontade – isto é, tanto uma intenção como uma ação.” Em Tudo Sobre o Amor, a autora defende que o amor genuíno só pode florescer em espaços onde haja justiça, respeito e equidade. Sob essa perspectiva, o amor negro é revolucionário: desafia o silenciamento, a desumanização e a negação da dignidade que marcam a história do povo negro.
Por isso, beijos entre pessoas negras, mãos dadas em público, declarações de amor nas redes e nas ruas são gestos que extrapolam o romantismo. São formas de dizer: existimos, amamos e temos o direito de viver plenamente nossas emoções.
Afeto como enfrentamento
Celebrar o Dia dos Namorados é também refletir sobre as barreiras que ainda impedem a liberdade das pessoas negras. E, como ensinou o MNU em 1991, é sempre tempo de reagir à violência racial com coragem e afeto.