Maior autoridade negra dos EUA, depois de Kamala Harris, faz sua primeira viagem ao exterior e revista RAÇA é o primeiro veículo de comunicação da América Latina a entrevistá-la

Em sua primeira viagem internacional oficial, a maior autoridade negra dos Estados Unidos, depois da vice-presidente Kamala Harris, escolhe a RAÇA como primeiro veículo de mídia para conceder entrevista exclusiva.

A embaixadora Gina Abercrombie-Winstanley foi indicada pelo presidente Joe Biden para ocupar a Diretoria de Diversidade e Inclusão do Departamento de Estado Americano. Antes disso, ela atuou como embaixadora dos EUA na República de Malta. Winstanley também foi assessora do comandante das forças cibernéticas norte-americanas, além de ter trabalhado em uma série de outros cargos no alto escalão do governo dos Estados Unidos.

Na entrevista a Maurício Pestana, o CEO da RAÇA, Gina Abercrombie-Winstanley falou sobre seus esforços para impulsionar a diversidade racial nas ações governamentais americanas.

RAÇA – Essa é sua primeira viagem ao exterior depois que assumiu o cargo de Diretora de Diversidade e Inclusão do Departamento de Estado Americano. Por que escolheu o Brasil como primeiro destino?

Gina Abercrombie-Winstanley – Assim como os Estados Unidos, o Brasil também é uma nação diversa. Nós temos coisas em comum e podemos ter maneiras diferentes de abordá-las, mas temos desafios similares. E eu vim ao Brasil para apoiar a nossa Missão Diplomática e também para aprender.

RAÇA – Seu currículo é invejável, tem uma extensa experiência em política externa com uma expertise e vivência no Oriente Médio, onde serviu em Bagdá, Jacarta e Cairo. O que aquelas regiões de profundas tensões étnicas e religiosas têm a apontar nas questões relacionadas à diversidade e tolerância para o Ocidente?

Gina Abercrombie-Winstanley – Do seu jeito, essas nações todas têm a sua diversidade, seja religiosa, seja étnica. E nós tentamos trabalhar com eles, cada um à sua maneira. Nem sempre foi fácil essa interação, mas uma coisa que é muito importante é que a gente dê oportunidade para que todas as pessoas possam mostrar e desenvolver seus talentos. Nenhuma nação pode, de fato, prosperar enquanto não aproveitar o talento de todos os seus cidadãos. E, para isso, você tem que ter oportunidades educacionais e profissionais para o benefício de todos.

RAÇA – A senhora tem atuado como conselheira em várias organizações que estão fazendo a diferença no mundo, nas áreas de educação e desenvolvimento para lideranças, como o Forum For Education. Como fazer uma educação mais inclusiva dado o alto custo da educação de qualidade para os menos favorecidos como negros, mulheres e outras minorias?

Gina Abercrombie-Winstanley – Sim, o custo da educação também é um problema dos Estados Unidos. Principalmente no ensino superior. O presidente Barack Obama tentou tornar as Communities Colleges gratuitas. A educação superior pode ser cara e chegar ao ponto de ser proibitivamente cara, a ponto de pessoas que trabalham não poderem pagar para estudar. Quando eu estava no primeiro semestre da faculdade, aos 20 anos, comecei a trabalhar, ganhar dinheiro e cogitei a possibilidade de parar de estudar. Pensei: “Para que vou trabalhar se já estou ganhando dinheiro?”. E minha mãe disse que “me mataria” se eu deixasse a escola e ela tinha razão.

RAÇA – A diversidade e inclusão é um dos quesitos mais desafiadores do governo Biden. A senhora assume essa pasta em um momento de extrema tensão onde grupos de supremacistas brancos têm ganhado força em algumas partes do país. Como pretende lidar com isso?

Gina Abercrombie-Winstanley – Estamos vivendo momentos desafiadores. Mas sempre foi desafiador. Esta é a única posição que eu ocuparia na atual administração, para me trazer de volta ao serviço público. Porque eu acredito que temos uma confluência de tempo e foco, e também uma demanda, tanto por parte do governo, quanto dos cidadãos americanos, para fazer mudanças sistêmicas e em como nós estamos nos comportando como americanos.

Nós temos que demandar os nossos direitos para que possamos expandir e demonstrar todos os nossos talentos. Eu passei por situações de discriminação, onde meus supervisores achavam que eu não tinha tanto talento ou potencial para demonstrar tudo o que eu poderia dar no ambiente de trabalho. Mas nós temos que provar o contrário, temos que perseverar. E, principalmente pessoas como eu e você, que chegamos a determinado ponto, nós temos a responsabilidade de sermos exemplos e mostrar a representatividade, provar para as outras pessoas que elas também podem lutar por esses mesmos direitos. É um direito nosso, lutar por oportunidades para desenvolver nossos talentos.

RAÇA – No Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, a população negra é maioria, cerca de 56% contra 13% nos Estados Unidos, mas o racismo estrutural de nossos países tem as mesmas características: violência policial, falta de diversidade em cargos estratégicos e problemas históricos nas áreas de educação e desenvolvimento humano. Que medidas conjuntas esses países poderiam tomar no combate ao racismo estrutural?

Gina Abercrombie-Winstanley – Acredito que nas nossas relações diplomáticas, muitas das parcerias que são mais efetivas não concorrem no âmbito superior, mas nos parceiros locais. Na minha experiência, as parcerias que foram feitas localmente sempre foram as mais efetivas, mais próximas de atingir um resultado mais efetivo. Em relação ao Brasil, especificamente, eu estou aqui justamente para aprender com os brasileiros. Cabe aos brasileiros nos dizerem quais são seus desafios e quais seriam as maneiras de solucioná-los. 

RAÇA – A RAÇA é a primeira e única revista negra da América Latina e está presente no país onde 56% da população negra se autodeclara negra, constituindo assim o maior país negro fora da África e o segundo maior país negro do mundo, perdendo apenas para a Nigéria. Que mensagem a senhora deixaria para essa população?

Gina Abercrombie-Winstanley – Eu falaria para você a mesma coisa que eu diria aos cidadãos do meu país em uma situação parecida com a que nós estamos vivendo. O mais importante de tudo é que nós tenhamos o nosso próprio lugar. A garantia de ocupar os lugares aos quais todos nós pertencemos e temos o direito de permanecer. Seja em uma organização, em uma empresa, seja em um país, todos nós temos que ocupar todos os lugares. E quando nós fazemos o contrário disso, evitamos que negros ocupem lugares, todos nós perdemos. Porque os negros não se tornam menos inteligentes conforme alcançam patamares superiores, seja em uma organização, seja na própria sociedade. Portanto, quando os negros também ascendem, todos nós ganhamos e quando isso não acontece, todos perdem. Porque talentos são perdidos e deixam de ser reconhecidos na sociedade. 

RAÇA – A senhora adotou um tom muito humano. Essa será sua marca?

Gina Abercrombie-Winstanley – Parte do sucesso que atingi hoje é porque vivi tudo. Vivi situações de preconceito, sexismo. Então fui construindo minha carreira em cima desses desafios que foram sendo superados. Durante a campanha de Bush, ele falava sobre o racismo silencioso das baixas expectativas, situação em que se olhava para as pessoas negras e já se determinava que elas não teriam condições de desenvolver determinado trabalho e isso feria muito. Ver que as pessoas me enxergavam dessa forma, determinando que eu não seria capaz de desenvolver certas atividades e todas as vezes que tive que provar o contrário disso, eu me fortaleci. É importante que você se fortaleça, tenha pessoas que o apoiem, sempre ao seu lado e continuem. Keep Going! 

A entrevista completa você confere na próxima edição impressa da Revista RAÇA.

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