Diversidade com excelência, o exemplo de Paris

Os temas diversidade e inclusão nunca estiveram tão em alta como neste ano, seja pelos avanços que muitas empresas alcançaram com inúmeras estratégias, como criação de grupos de afinidades, estabelecimento de metas, letramento racial, entre outras, ou mesmo pelo resfriamento do mundo corporativo com o tema, algo percebido e apontado por vários especialistas do mercado.

Porém, em um ano de tantas emoções relacionadas ao assunto, passou quase despercebida a autoperformance dos atletas negros e paralímpicos que poderia inflar o debate sobre diversidade e inclusão trazerem bons resultados.

Do ponto de vista racial, o Brasil brilhou nas duas categorias dos jogos, tanto na Olimpíada como na Paralimpíada. A força e a determinação de atletas negros se contrapuseram a muitas áreas na sociedade brasileira, onde competência e talento são deixados de lado em detrimento de aparência, gênero e, no caso das Paralimpíada, de algumas deficiências físicas.

Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris mostraram que onde existe oportunidade o talento aflora; pessoas negras, com deficiência e mulheres foram o grupo que mais trouxe ouro para o nosso país. 

Em termos de gênero, o país foi destaque em várias modalidades. Se no mundo do trabalho as mulheres negras são as que têm os menores salários, as que mais sofrem discriminação, como todos os estudos apontam, na Olímpiada elas foram as que mais se empenharam e as principais responsáveis pelo ouro olímpico.

Destaque para Rebeca Andrade, jovem, negra, de origem periférica da cidade de Guarulhos, Grande São Paulo, que se tornou a maior medalhista de todos os tempos no Brasil, demonstrando que onde existe oportunidade o talento ganha força, inibindo o preconceito e o racismo. 

Na Paralimpíada, então, foi um banho, um exemplo do quanto o talento pode ser aproveitado no mundo corporativo em que muitas vezes o preconceito e a discriminação chegam na frente, bloqueando a capacidade, a habilidade, o desempenho de quem já lutou e aprendeu a vencer as maiores adversidades que a vida impõe a alguém diferente daquilo que o mercado, a moda ou qualquer padrão estético definem como normal, bonito ou eficiente.

A presença brasileira na Olimpíada e Paralimpíada foi um balde de água fria nos tais padrões estabelecidos para o sucesso em nossa sociedade. 

Vivemos um momento de grande transição no planeta, há pouco mais de dez anos não tínhamos sequer redes sociais, e a IA – inteligência artificial deverá mudar radicalmente o mundo em que vivemos, sobretudo na área do trabalho, onde cada vez mais o talento, a versatilidade, a criatividade, a determinação ganharão espaço nesse novo ambiente que se desenha.

Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris mostraram a força que a diversidade do maior país negro fora da África pode trazer para esse novo cenário, onde a oportunidade pode ser a chave de virada para a inclusão e o sucesso de ouro, como demonstramos em Paris.

Publicado originalmente na CNN Brasil.

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jornalista CEO e presidente do Conselho editorial da revista RAÇA Brasil, analista das áreas de Diversidade e inclusão do jornal da CNN e colunista da revista IstoÉ Dinheiro

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