Diversidade e Inclusão como pilares para a comunicação

Como já havíamos noticiado o CNN no Plural projeto da CNN Brasil que visa intensificar a diversidade e a inclusão no meio da comunicação completou no ultimo dia 06 um ano de existência! Para Renata Afonso CEO da CNN Brasil destaca “‘Diversidade e Inclusão’ é uma das minhas convicções de vida. É uma agenda que carrego comigo para onde quer eu vá ou esteja. Assumi o compromisso de fazer de ‘Diversidade e Inclusão’ um alicerce da cultura da CNN Brasil. Aqui, pluralidade está em nosso DNA. Quando há identificação com os valores e práticas de uma empresa, as pessoas se sentem confortáveis e livres para poder se orgulhar de quem realmente são. E passam a se sentir pertencentes a este lugar. Por isso, é nossa responsabilidade, como empresa de comunicação multiplataforma que somos, ser um agente que forme e transforme a sociedade.

A Raça foi então bater um papo com Letícia Vidica e Rafael Câmara os idealizadores do projeto. A entrevista completa você confere agora:

Para vocês qual o maior desafio que já enfrentaram, e o que vocês enfrentam hoje?

Rafael Câmara – Eu acho que como a minha participação no CNN No Plural é voltada exclusivamente para a comunidade LGBTQIAP+, eu tive que mexer muitas coisas em mim. Eu sempre fui assumido para a minha família, tenho 40 anos mas falei com a minha família aos 33, então isso não é um problema para mim e nem no meu círculo. No momento em que eu começo a escrever e militar para mim, mudou tudo. Então no início o maior desafio foi quando a gente começou a conversar sobre a possibilidade de escrever uma coluna falando sobre a comunidade LGBTQI e quando eu sentei para escrever a primeira vez, eu escrevi o primeiro texto e pensei, isso está uma porcaria, não é nada do que eu sinto. Como eu fui repórter muitos anos, então eu escrevi uma matéria, e pensei não, não é isso que eu quero. A Letícia falava assim para mim: você tem que botar você ai, por que é uma coluna. Eu pensei, poxa eu nunca escrevi em primeira pessoa, e escrever na primeira pessoa nesse caso é expor a minha vida. Ai eu falei: Vamos lá! O primeiro texto que eu escrevi eu só chorei. E quando eu parei entreguei pro meu marido ler, ele leu e perguntou se eu ia publicar. Eu respondi se deixarem eu vou. Aí a Leticia leu e disse é esse o caminho, ainda tem muito a explorar. Então o meu primeiro desafio foi me aceitar mais como gay e o meu papel, e o papel de tudo isso. Hoje o desafio é o compromisso de tentar representar uma comunidade, principalmente sendo um homem, CIS, gay, padrão total por que esse eu acho que é meu maior desafio. Por que eu tenho preconceito até dentro da própria comunidade, por que a muito tempo atrás era GGG que a gente falava, era um homem gay tentando pegar e deixando todas as outras letras para trás. Então eu tive que aprender, eu fui aprendendo com o Plural isso. Eu não tinha a mínima ideia disso. Então esse é meu desafio diário ser um gay padrão e que tento representar uma comunidade e ser aceito.

Letícia Vidica – O primeiro maior desafio foi acreditar na ideia. Eu tive alguns incentivos. O CNN no plural surgiu em um momento profissionalmente delicado para mim, onde eu estava questionando para onde eu iria na minha carreira profissional, para onde fazia sentido. Acho que todo mundo em algum momento passa por esses questionamentos se faz sentido o que estou fazendo ou não, e aí em uma conversa telefônica com o Rafael ele me falou assim: você precisa fazer algo pela sua comunidade. E eu já tinha um trabalho anterior, na outra emissora de onde eu vim, onde eu comecei isso também incentivada por outro amigo que falou: ‘Você tem que prestar muita atenção no poder que você tem na mão. Usa isso de uma boa maneira’, e foi aí que eu comecei algo sobre diversidade na Globo, e aqui eu sinto que o Rafa acendeu uma faísca e falou: vai! Eu pensei, será que vale a pena? Vou tentar. Ai eu comecei a ver um caminho aberto e foi quando eu trouxe a ideia. Então o maior desafio inicial foi acreditar nessa ideia. E quando todo mundo topou, e falaram: ‘Que ótimo que máximo, vamos fazer!’ a coisa foi escalando, e o vice presidente aceitando, a presidência aceitando, todas as ideias que eu estava dando, eles falavam vamos fazer, vamos fazer, eu quis me colocar a frente do projeto não só como idealizadora, mas também dentro, comecei pela rádio, fazendo participações. Eu não era da frente dos vídeos, das câmeras. Eu era dos Bastidores. Foi um grande desafio para mim, quebrar essa barreira e botar a minha cara no sol. Então esse foi um, e o segundo é muito do que o Rafa fala, desafio atual e a responsabilidade de fazer tudo isso. Por que o impacto do projeto aqui dentro tem sido cada vez mais gigantesco, para dentro e para fora. Então tudo agora tem que ser muito responsável, com as coisas que a gente fala, como a gente se posiciona os temas que a gente trás, são importantíssimos. Eu estava falando com o editor do Popverso, sobre como temos que falar sobre representatividade nessas eleições. E é assim mesmo que a gente faz, conversa com um aqui, outro ali, a gente vai levando o projeto. Então essa responsabilidade esse gigante que cresce, pra onde ele vai as vezes assusta, mas agora não dá mais para deixar de comandar o navio, tem que seguir.
Falando então um pouco sobre esse gigante, qual o balanço que vocês fazem deste 1 ano de projeto?

Letícia – O balanço é o mais positivo possível de números e percepções. O plural começou a um ano atrás e ele era um quadro na rádio, de 15 minutos, comigo e com Sidney Rezende, e uma matéria na TV uma vez por semana e uma ação nas redes sociais e era isso. Hoje ele tem duas entradas na rádio, uma minha e uma do Rafa, quarta e quinta. Ele está na TV aberta, está com ações nas redes sociais, virou Podcast, a gente ganhou espaço na Home do site da CNN Brasil onde nós alimentamos com matérias. Todo esse time escreve, a editora, a estagiária, a produtora, essa equipe que está escrevendo. Estamos fazendo coisas internas, trabalhando no futuro para fortalecer a marca, por que é algo comercial também, então estamos fortalecendo a marca e crescendo cada vez mais.

Rafael – Eu acho que só complementando aquilo que você está falando, tirando a audiência nesse balanço de um ano que a gente conseguiu crescer em várias plataformas e tudo o mais, a gente cresceu internamente. Então hoje é difícil encontrar alguém aqui dentro que não sabe o que é o CNN No Plural, e que pode representar isso na vida dela. Então as pessoas se aproximam da gente, falam das dores delas. Elas querem entender mais sobre o projeto, e participar mais do projeto então isso também da força pra gente continuar aqui. Então em um ano cresceu muito pra fora, mas cresceu muito aqui dentro que vai dar a origem do comitê de diversidade por exemplo.

O fato de ter uma mulher LGBTQI+ na presidência da empresa é um fator que incentiva mais, da mais responsabilidade ou é um mix dessas duas coisas?

Rafael – Eu acho que é um mix dessas duas coisas. No início é claro que eu fiquei muito mais tranquilo, quando eu mesmo conversei com esse projeto com a Letícia, eu achei que teria uma abertura muito maior pela postura da Renata. Ela chegou dizendo, que era uma mulher lésbica. Então ela abriu para essa diversidade. Por outro lado a responsabilidade é muito grande, é um olhar muito específico, mais especialista de tudo que a gente está fazendo. Não só como jornalista, mas como também alguém da comunidade

Letícia – Eu acho também que é um mix das duas coisas, por que falar em diversidade hoje em dia, todo mundo quer falar. “Ah tem que falar, é importante, lucrativo, pela causa, isso afeta investimento, o mundo pede isso’ então assim existe tudo isso. Mas falar assim, e acreditar no discurso e ter isso como propósito é diferente. Então, as coisas só funcionam quando vem não tem jeito é de cima para baixo. Então a gente tem aqui realmente, o apoio da Renata como CEO e presidente, vivendo e vivenciando, acreditando e tendo como valor pessoal dela, faz toda a diferença por que isso desce. Se a gente não tivesse isso ali, não sei se o projeto tinha chegado a um ano. Não sei se eu teria o espaço de trazer, de me sentir confortável em trazer a ideia, por mais que eu quisesse. Por que até antes de chegar na Renata, a primeira pessoa que eu levei a ideia foi o Américo Martins. Por que? Por que uma conversa anterior lá atrás de George Floyd ele me chamou para uma conversa na sala dele, para me perguntar o que eu tinha achado da cobertura. E aquilo pra mim foi muito importante ver que alguém queria saber a minha opinião. E aí eu percebi que era uma pessoa aliada, e que se importava com aquilo. Então quando veio a ideia eu não tive dúvidas, a primeira pessoa que eu vou levar isso vai ser ele. Tem outros vários que também se importam, mas ali abriu um espaço e aí ele conversou com os outros VPs, e todo mundo comprou a ideia, a Renata comprou então sim, faz toda a diferença ter alguém que apoie.

Rafael – Eu acho que acontece uma outra coisa importante aqui, é que nós dois viemos da mesma empresa, trabalhamos na Globo muitos anos. Então acontece aqui na CNN que pra gente faz toda a diferença que é assim, todos os produtos que o Plural foi se multiplicando, começou na Rádio, depois TV, depois foi pra internet, depois virou Podcast, tudo vinha da nossa cabeça, da equipe e nós não tínhamos problema nenhum, e nunca encontrou nenhuma dificuldade.

Letícia – Hoje toda a linha da CNN No Plural não há nenhum controle. As ideias são do time todo, vamos falar isso, vamos falar daquilo. A gente sugere e tem uma liberdade muito grande.
Rafael “Olha tenho vontade de fazer um Podcast, vamos fazer uma reunião?” “O que vocês acham?” Eu acho bacana, aprovou e em uma semana vamos fazer. Isso que eu acho muito bacana aqui, por que as ideias vão surgindo e não vão morrendo. E nem vira aquela burocracia onde você vai desanimando quando você tem uma ideia e a coisa não funciona.

Leticia – E o impacto que ele falou também, é o impacto interno. A gente começou a ver algumas mudanças nas pessoas e no jornalismo. Porque o que a gente quer, hoje a gente tem o CNN No Plural, estruturado. Antes ele era um dia na semana, hoje ele está aí e não é mais um dia e isso é ótimo. Tem um dia do CNN No Plural na rádio, na TV e tudo mais, mas hoje eu já vejo a gente noticiando uma pesquisa que fale sobre diversidade, ou dando uma matéria que está falando de diversidade e inclusão sem ninguém precisar pedir. As pessoas estão entendendo a causa, e que isso é importante. Já estão colocando o selo do plural, final de semana a gente reprisa as matérias, isso que é legal. Outro dia eu estava assistindo e vi uma economista preta no ar e pensei: O Plural está para isso. É aí que eu quero chegar, ainda não cheguei. O dia que eu conseguir ver uma pessoa preta falando de economia, um advogado falando de direito, outro ali que vai ser naturalizado e não só ser chamado para falar das questões raciais eu vou ficar um pouquinho mais tranquila. Esse é o objetivo, sempre foi e a gente começa devagar.

Quando você fala em diversidade hoje, algumas empresas no Brasil já trabalham com métricas e metas. Por exemplo a meta é essa, chegando aqui em um ano, ou daqui a dois anos, ou daqui a um tempo a gente mude esse universo. Vocês têm essa perspectiva, vocês têm isso traçado? Há um horizonte?

Leticia – Nós estamos nesse momento de traçar isso. Por que assim, tudo está sendo muito orgânico. O próprio crescimento do Plural em um ano, estamos com alguns números e atualizando. Nossas métricas são de continuar com essa visibilidade nas plataformas ainda mais estabelecidas e crescer o Plural em duas frentes. Institucional onde já estamos crescendo muito, comercial também e de fato interna. Então estamos no passo de formar o comitê de diversidade, que é nossa primeira ação para depois a gente pular através do Plural consiga fazer programa de contratação exclusivos, direcionados. Estamos falando para fora, mas precisamos mexer aqui dentro também na nossa estrutura. E a gente vislumbra também o crescimento do Plural, por que não, que seja um programa, eventos a gente tem trabalhado nessa frente.

Rafael – E eu acho que com relação a métrica o comitê vai ajudar muito a gente por que a gente vai conseguir até através do comitê encontrar novos colaboradores dentro da empresa que irão poder auxiliar com o Plural. E aí sim a gente vai montar essa métrica que em um ano a gente quer estar em tal lugar, em dois anos estar em tal lugar. E conquistando esse espaço, mas foi o que a Letícia falou, o CNN no plural ele é bem orgânico e fez com que a gente repensasse todo o nosso trabalho aqui dentro. Então agora é o momento da gente parar, e montar essa métrica toda.

Leticia – Estamos em umas organizações internas, eu tenho usado muito essa palavra nem sei se está certa, mas eu quero transformar o Plural em um Hub. Eu acho que tem muitos braços. Ele é um produto editorial, comercial, institucional, para fora e para dentro e também essa rede de colaboradores por que é uma coisa que eu queria deixar muito claro, é que a gente começou a criar, ainda está longe, mas já temos uma zona de conforto interna das pessoas virem falar com a gente sobre determinados assuntos, de se assumirem, de contar histórias de vida. Aconteceu isso comigo, de estar na ilha de edição e do editor de imagem estar falando que viu uma matéria do Plural, vira e fala: ‘Meu filho é gay. Alguém vem e fala pro Rafa, sou uma mulher lésbica’

Rafael – O que eu faço? Com quem eu falo? Você pode me ajudar? A gente também não faz a mínima ideia muitas vezes de como fazer, mas somos honestos e falamos que não sabemos mas que daremos um jeito de ajudar, por que um dia eu precisei dessa ajuda.

Leticia – Ou até tipo a pessoa pergunta: “Como eu falo? Está certo falar preto ou negro? Eu sou um preto pardo?” Às vezes eu até brinco e falo gente eu não sou o Wikipreta. Eu estou aprendendo também. Mas é essa responsabilidade que eu comecei falando. Tem horas que eu penso meu Deus.

Rafael – Eu acho que a CNN por ser nova, faz 3 anos em março e estamos em um processo de reestruturação cultural muito forte, de descobrir a cultura da empresa. Então o No plural entra aí. Ele nasceu junto.

Diversidade e Inclusão é jornada longa e os desafios são muitos. Mas já começamos a dar passos importantes. Uma das iniciativas foi a criação do CNN No Plural, há um ano. Nossa intenção foi – e continua sendo – trazer mais rostos e vozes para o jornalismo que nos propomos a fazer todos os dias. Estamos atuando na quebra de estereótipos e preconceitos e vieses inconscientes. Para o futuro, queremos cada vez mais impactar todas as pessoas que nos acompanham em todos os nossos canais. Mostrando a pluralidade da nossa sociedade, fazendo com que a nossa audiência tenha contato e conhecimento sobre esses temas, tão necessários e urgentes. O CNN No Plural baliza mudanças internas importantes como a criação do nosso Comitê de Diversidade & Inclusão. É também um negócio. Conversa com um mercado cada vez mais atento às pautas sociais e às necessidades de um consumidor diverso e, cada vez mais, consciente. Esse é o legado que estamos construindo na CNN Brasil e que permanecerá para além da minha gestão como CEO”, finaliza Renata Afonso.

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