Diversidade e inclusão, desaquecimento do tema?

Uma das coisas que mais tenho ouvido no meio corporativo por onde caminho, sobre o tema da diversidade e inclusão, é o desaquecimento da pauta nas empresas. Ouço que em muitas companhias o tema já não tem mais a mesma relevância e que os recursos de tempo, pessoas e até mesmo financeiros destinados ao tema têm sido enfraquecidos, o que em muitos casos é a mais pura realidade.

Não me espanto com tal constatação, afinal o Brasil levou mais de 100 anos para colocar esse assunto em pauta, da mesma forma que foi o último país do mundo a abolir a vergonhosa escravização de pessoas negras, o que ocorreu há 136 anos, sem nenhum ressarcimento ou qualquer projeto de inclusão da mão de obra negra. E, pior, após a abolição entra em curso um processo de exclusão em áreas estratégicas para a consolidação de qualquer projeto emancipatório de um povo, como educação, saúde, emprego e renda, fazendo com que nos tornássemos hoje uma das nações de maior desigualdade do mundo e que essa desigualdade tenha cor.

Só recentemente, com mais de 100 anos de atraso, surgiram as primeiras políticas reparatórias para os descendentes de escravizados que foram as cotas raciais, ferozmente combatidas pelas elites econômicas e políticas do nosso país.

Dizer que está havendo um desaquecimento das políticas de diversidade e inclusão nas empresas, usando como argumento uma tendência norte-americana por conta de medidas adotadas pela conservadora Suprema Corte federal de lá e do temor de uma guinada de direita naquele país, onde setores conservadores são contra essas políticas, é uma das maiores canalhices que se possa argumentar por aqui. Primeiro que é comparar o incomparável, realidades históricas, práticas, avanços e enfrentamento do racismo diferentes.

Enquanto os Estados Unidos pouco depois da metade do século passado começam a implementar fortes políticas afirmativas em vários setores, na mesma época o Brasil, com sua política de exclusão, sequer admitia desigualdades raciais. Enquanto lá se investia em educação no final do século 19, como forma de vencer as barreiras econômicas e raciais fundando a primeira universidade negra, aqui só adotaríamos algumas dessas políticas, como cotas raciais nas universidades, neste século 21, mais de 100 anos depois e ainda assim com muita resistência.

Por Maurício Pestana
Publicado originalmente no dite da CNN Brasil

🌍 Participe do Fórum Brasil Diverso nos dias 31/10 e 01/11, no Memorial da América Latina! 💼 Junte-se a líderes do setor público, privado e acadêmico para debater inclusão e diversidade de forma pioneira. Inscreva-se agora e faça parte dessa transformação! 👉 https://bit.ly/3Bni2rp

Comentários

Comentários

About Author /

jornalista CEO e presidente do Conselho editorial da revista RAÇA Brasil, analista das áreas de Diversidade e inclusão do jornal da CNN e colunista da revista IstoÉ Dinheiro

Start typing and press Enter to search

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?