Especialistas apontam caminhos para inclusão, enfrentamento de crises, desafios climáticos e impactos da IA no campo jurídico brasileiro
O setor jurídico brasileiro está sendo atravessado por transformações profundas — do avanço da diversidade à adaptação diante das mudanças climáticas, passando pelo impacto da inteligência artificial e da Reforma Tributária. Especialistas trouxeram contribuições substantivas que ajudam a entender as tendências e demandas que moldam o presente e o futuro da advocacia.
Diversidade como estratégia e reparação
A professora da FGV-SP e coordenadora de diversidade, Alessandra Benedito, foi enfática ao apontar que “diversidade não é agenda de marketing, é agenda de justiça”. O painel sobre diversidade, equidade e inclusão (DEI) reforçou que a representatividade nos escritórios e nos conselhos ainda é um desafio — mas também uma grande oportunidade.
Dione Assis, fundadora da Black Sisters in Law, trouxe um exemplo contundente de mobilização: “Começamos com menos de 20 advogadas negras num grupo de WhatsApp. Hoje somos mais de 7,5 mil mulheres negras atuando em rede para ocupar cargos de liderança”. A advogada destacou que a atuação em rede tem sido decisiva para abrir portas em um setor historicamente excludente.
Tecnologia e IA: estratégia, não apenas ferramenta
A inteligência artificial e sua influência sobre a prática jurídica foram discutidas como um ponto de inflexão no setor. “IA não é tecnologia, é estratégia”, afirmou Alessandra Fu, Diretora de Arquitetura e Salesforce. Para ela, a implementação efetiva de IA exige perguntas certas e estrutura organizacional — não apenas ferramentas.
Pedro Maciel, do Lefosse, reforçou que o uso da IA já não é mais opcional. “Estamos na onda da inteligência artificial no Direito, com grandes modelos de linguagem e tudo acontecendo muito rápido”. Bianca Longo Campos, da Jus Mundi, chamou atenção para o excesso de oferta: “Todos os dias surgem empresas de IA para o mercado jurídico. É preciso entender o que de fato é necessário”.
Mudanças climáticas e a nova economia
Caroline Prolo, Head de Stewardship Climático da Fama re.capital, lembrou sua participação em negociações da ONU com os 46 países menos desenvolvidos, e defendeu o papel de liderança do Brasil. “Precisamos reafirmar os princípios da bioeconomia. ‘Multimaterialismo’ é economia sustentável”, afirmou.
Giovani Loss, sócio do Mattos Filho, abordou a transição energética como um novo vetor de negócios: “Esse novo ciclo pós-sustentabilidade vai ter imenso impacto econômico. O mercado de crédito de carbono virou ativo estratégico para empresas e escritórios”.
Desafios tributários e oportunidades jurídicas
A complexidade da Reforma Tributária foi alvo de críticas e alertas. “As empresas ainda não estão preparadas”, advertiu Kaliane Abreu, fundadora da Women Leaders in Fintechs. Ela destacou a urgência de integração entre tecnologia e legislação, sugerindo a criação de comissões tributárias para planejar investimentos e adaptar estratégias.
Apostas esportivas e o surgimento de novos nichos
Com a regulamentação do setor de apostas esportivas, o Direito brasileiro ganhou um novo campo promissor. “Em agosto de 2024, havia 4 mil sites que movimentaram R$ 20 bilhões. Hoje, 59 empresas estão autorizadas, e cada uma investirá R$ 30 milhões para operar”, explicou Nicole Moreira, sócia do Mattos Filho. Segundo ela, os escritórios precisarão se preparar para a sofisticação regulatória e o aumento das disputas judiciais.
As análises foram feitas durante o evento Chambers Fórum São Paulo, realizado no mês de março e que reuniu mais de 300 profissionais do campo do Direito.