Revista Raça Brasil

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Diversidade, Equidade e Inclusão: Três Desafios de Uma Agenda Inadiável 

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PMR Advocacia

Fabiano Machado da Rosa: Advogado especialista em Compliance Antidiscriminatório e Fundador da PMR Advocacia e Paulo Petri é Advogado, mestre em ciência política, fundador da PMR Advocacia.

Em um cenário global cada vez mais atento aos pilares da sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa (ESG), a agenda de diversidade, equidade e inclusão (DEI) consolidou-se como um eixo estratégico inegociável para empresas que almejam alta performance com longevidade. Essa pauta, longe de ser apenas uma diretriz ética ou um gesto simbólico, passou a integrar a lógica do negócio, sendo fator essencial para a geração de valor, inovação e resiliência institucional. Especialmente em um contexto em que vozes negacionistas e movimentos de retração colocaram em xeque avanços sociais, torna-se ainda mais necessário reafirmar a centralidade da DEI como vetor de transformação legítima nas organizações.

 

O primeiro desafio é compreender que a diversidade, equidade e inclusão são capazes de humanizar profundamente a cultura interna das empresas. Em um ambiente corporativo onde a pluralidade de vivências, identidades e trajetórias é reconhecida e respeitada, cria-se um clima organizacional mais saudável, criativo e colaborativo. Humanizar não significa abrir mão da excelência, mas sim entender que a verdadeira excelência nasce da escuta ativa, do respeito mútuo e do pertencimento real. Empresas que conseguem criar um espaço onde todas as pessoas se sintam vistas, valorizadas e empoderadas são aquelas que cultivam equipes mais engajadas, inovadoras e sustentáveis.

 

O segundo ponto reside no papel da DEI na mitigação de riscos e na proteção da reputação corporativa. Em tempos de altíssima visibilidade e rápida circulação de informações, a reputação de uma organização pode ser comprometida por falas, práticas ou omissões que revelem despreparo, insensibilidade ou descompromisso com os valores sociais contemporâneos. Para além das penalidades jurídicas ou regulatórias, os danos reputacionais podem ser letais à imagem institucional e à confiança de investidores, consumidores e talentos. A agenda de DEI, portanto, deve ser incorporada de forma estruturada à governança das empresas, como medida preventiva, estratégica e responsável — especialmente pela alta liderança, cuja conduta tem reflexos diretos sobre a cultura corporativa.

 

Por fim, é preciso reconhecer que, no Brasil, a promoção da diversidade, equidade e inclusão é também um imperativo de superação das desigualdades históricas — econômicas, sociais, educacionais e culturais — que marcam a nossa formação como nação. Não se trata apenas de criar oportunidades formais de acesso, mas de enfrentar de maneira concreta as barreiras estruturais que impedem a ascensão de pessoas negras, indígenas, mulheres, pessoas com deficiência e LGBTQIAPN+ nos espaços de

poder e decisão. No contexto da pauta racial, especialmente, avançar em DEI significa tocar o cerne da justiça social e da democratização real da economia, permitindo que talentos historicamente marginalizados possam liderar, empreender e inovar com liberdade e dignidade.

 

Falamos aqui enquanto advogados que lideram a PMR Advocacia, um escritório de direito empresarial fundado e conduzido por dois profissionais negros. Nossa visão é otimista. Não acreditamos em retrocessos duradouros nas conquistas sociais porque confiamos, acima de tudo, no protagonismo das pessoas. E, em especial, no protagonismo da população preta do Brasil — que, cada vez mais, afirma sua ancestralidade com orgulho, defende sua cultura com consciência e ocupa espaços com competência, coragem e o poder transformador dos seus sonhos. Sabemos que o caminho é desafiador, mas não temos dúvidas: não há mais volta. O futuro será construído com todas as vozes. E será melhor por isso.

 

E, no fim de tudo, a PMR Advocacia nada mais é do que o sonho que nasceu do encontro de dois jovens negros, de famílias humildes, nos corredores da Faculdade de Direito da PUC do Rio Grande do Sul, na década de 1990. De um lado, o impulso urgente da mobilidade social; de outro, a esperança incansável de um país mais justo, livre da praga das discriminações, do preconceito e do racismo. A partir desse encontro, nasceu um escritório. Do escritório, floresceu uma força de intervenção social. E dessa força, seguimos acreditando, inspirados em Mandela e Tambo, que o Direito pode ser um farol. Um farol que ilumina as realidades ainda marcadas pelas desigualdades, pelo racismo estrutural que atravessa séculos e que, na raiz da nossa ancestralidade, sequestrou sonhos e corpos da África para o Brasil. O nosso compromisso é continuar crescendo com os pés fincados nos valores humanos, com alta performance e com inovação contínua. Estar hoje escrevendo nesta Revista Raça é mais do que uma conquista institucional — é a realização de um sonho pessoal. Porque ontem éramos leitores, jovens inspirados por este veículo de comunicação social. Hoje, somos colunistas de uma publicação que não apenas informa, mas luta. Luta por liberdade. Por justiça. E pela igualdade que o Brasil precisa — e merece — alcançar.

 

[Os textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da Revista Raça]. 

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