Diversidade: variações do mesmo tema sem sair do tom.

Falar sobre diversidade é a nova moda em empresas no Brasil e no mundo. Finalmente, executivos consideram que há um problema e que a desigualdade de oportunidades é algo palpável. Não se pode ignorar o elefante no meio da sala, fingir que ele não existe. Porém, na prática, a teoria é outra, e as empresas seguem patinando.

“Veja bem”, “É difícil”, “Não vamos baixar a régua” – são frases repetidas aos ventos.

Eu sei. Diversidade é um tema velho, batido. Muitos já falaram antes de mim e seguiremos falando. Soluções mágicas não existem, gente. Iniciativas de inclusão e a garantia da diversidade no mundo corporativo exigem tempo, comprometimento e uma mudança profunda de crenças e estruturas. Afinal, estamos questionando poderes. Não queremos ser trainee apenas. Queremos a cadeira da diretora, da CEO, do conselheiro. Isso gera conflito de interesses. E as empresas não vão dobrar o número de diretores da noite para o dia. É uma dança das cadeiras em que a música só começa quando alguém já está sentado.

A realidade dos números é essa: pessoas negras ocupam menos de 5% dos cargos de liderança no Brasil. Na área de tecnologia, representam menos de 20% da força de trabalho. É difícil negar a disparidade racial no mercado de trabalho.

Digamos que a empresa onde você trabalha tem iniciativas sérias de inclusão, de suporte à formação de crianças e jovens em bairros carentes, investe no longo prazo. Mas há outras forças correndo em paralelo. É produto novo, loja com prejuízo, concorrência pressionando, vendas abaixo do esperado. O curto prazo grita mais alto. E as ações afirmativas viram o famoso “na volta, a gente compra”. Nessa terra, todo mundo quer plantar soja para colher daqui poucos meses. Quem aqui pode ou quer plantar carvalhos?

Se não há resultados rápidos nem fórmula mágica, é ingenuidade lutar por mudança?! Talvez, mas não temos opção. “Ante la duda, coraje”, diz o ditado em espanhol. Pra quem tem a caneta ainda falta letramento, sensibilidade. Se a sua empresa acha que está no caminho certo, afinal, tem uma diretora preta para assuntos de diversidade e RH, pergunte porque ela não está no financeiro ou no setor de marketing? Não vale usar “é difícil” ou “veja bem” como respostas.

Recentemente, ouvi de um executivo de tecnologia que sua empresa busca a diversidade, só não é a prioridade. Se um candidato possui uma formação um pouco superior à de uma mulher, a vaga é dele. Questionado se o critério garante que os “melhores” individualmente formarão o melhor time, o silêncio foi a resposta. Uma mulher preterida. Imagine a repetição da cena, milhares de vezes, ao longo do dia. Em números, para cada 10 homens programadores, temos 1 mulher.

O mesmo executivo me perguntou se haveria uma meta, um número para sua empresa ser considerada diversa, que gerasse valor. Respondi que não é sobre números, mas sobre criar espaços e possibilidades. Sobre ter intenção e se aprofundar no tema. Porque hoje há livros, intelectuais e fontes diversas para consultar. É garantir chuteiras e estômago cheio para quem jogar, sem depender de caridade ou esmola corporativa. É desfazer as barreiras que separam pessoas negras, mulheres, e outros grupos minorizados, do mercado de trabalho.

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