Revista Raça Brasil

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Do assalto ao racismo, o caso do VP da Rede TV

O vice-presidente da RedeTV, Marcelo de Carvalho, tornou-se centro de uma controvérsia racial ao descrever um assaltante em Barcelona como “um sujeito de aparência africana, dos milhões que a Europa deixou entrar”. A postagem, feita no X (antigo Twitter) nesta segunda-feira (14/7), rapidamente gerou acusações de racismo e xenofobia, expondo como estereótipos raciais ainda são naturalizados por figuras públicas. Ao vincular a criminalidade a uma origem étnica e criticar políticas migratórias europeias, Carvalho reforçou narrativas discriminatórias que associam negritude e imigração à violência.

A reação nas redes foi imediata e contundente. Internautas apontaram o caráter racializado da descrição, destacando que a menção à “aparência africana” não apenas estereotipou o sujeito do crime, mas também generalizou uma conexão entre imigrantes e criminalidade. A tentativa de Carvalho de se justificar – alegando que poderia ter mencionado outras etnias – só agravou a situação, revelando uma incapacidade de reconhecer o viés racista de sua fala. Sua resposta irônica (“Eita saco de gente chata”) demonstrou resistência em assumir a gravidade do que havia dito.

O episódio vai além de um deslize individual e reflete um problema estrutural: a naturalização de falas que associam pessoas negras, especialmente imigrantes africanos, à delinquência. Ao misturar relato criminal com crítica a políticas migratórias, Carvalho ecoou discursos de extrema-direita que criminalizam movimentos populacionais. O fato de um executivo de mídia, com ampla visibilidade, reproduzir esse tipo de narrativa mostra o quanto o racismo ainda está enraizado em setores influentes da sociedade.

A ausência de uma retratação formal até o momento também é sintomática. Enquanto figuras públicas são cada vez mais cobradas por posturas antirracistas, Carvalho optou por minimizar as críticas, reforçando a noção de que certos privilégios permitem a homens brancos e poderosos lidar com acusações de racismo como mera “chatice”. Essa postura contrasta com o crescente movimento por responsabilização no debate público, especialmente em um país como o Brasil, onde o combate ao racismo ainda enfrenta resistências.

O caso serve como alerta para o papel da mídia na reprodução ou desconstrução de estereótipos. Se um vice-presidente de emissora televisiva normaliza esse tipo de discurso, qual o impacto disso na forma como a sociedade enxerga negros e imigrantes? A polêmica revela a urgência de mais consciência racial nos espaços de poder – e a necessidade de que figuras públicas sejam cobradas não apenas por suas ações, mas por suas palavras.

Enquanto o assunto gera debate, permanece a pergunta: até quando casos como esse serão tratados como “controvérsias passageiras” em vez de oportunidades para discutir racismo estrutural? A resposta depende não só de Marcelo de Carvalho, mas de quantos estão dispostos a enxergar o problema para além de um “mal-entendido”.

 

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