O Natal é uma época de reflexão, mas também um momento de pensar neste tempo e na realidade em que vivemos, onde a discussão sobre o uso ou não de uma sandália se torna mais relevante do que refletir sobre os milhares de seres humanos que nem sandálias têm para colocar nos pés. Se Jesus viesse ao mundo hoje, provavelmente seria um desses que vivem à margem da nossa sociedade. Nasceria embaixo de uma ponte ou viaduto, seria um sem-teto e, assim como há mais de dois mil anos, seria mais um entre os milhões de desassistidos que lutam diariamente para sobreviver.
Com certeza caminharia ao lado dos excluídos, dos periféricos, dos esquecidos pela sociedade e pelas autoridades. Questionaria o sistema, os políticos e os poderosos, assim como fez há mais de dois mil anos, quando desafiou templos e religiosos que transformavam a religião em um comércio desenfreado.
A mensagem de amor e igualdade que trouxe ao mundo seria questionada. Perguntariam de que lado ele estaria e, em seguida, tentariam desacreditá-lo. Mas ele não se calaria, continuaria a falar de amor, de justiça e de compaixão. E, talvez por isso, seria perseguido, odiado e desacreditado, sendo que, provavelmente, mandariam soldados para prendê-lo e silenciá-lo. Mas, diferente de quando andou pela Terra, ele não seria julgado e crucificado como antes; hoje, certamente seria morto e acusado de resistência à mão armada por carregar um cajado, tornando-se apenas mais um número nas estatísticas da violência. E a mensagem de amor e igualdade que trouxe ao mundo, dividido em tanto ódio, seria lembrada por alguns como a de um homem que escolheu o lado errado.
Porém, o amor, a justiça, a solidariedade e a compaixão não têm lado. Que o legado de Cristo, que ainda permanece vivo entre nós, independentemente de religião, credo ou lado, continue sendo lembrado não só no período do seu nascimento, mas o ano inteiro, pelos que têm fé e mesmo pelos que não têm fé: que um novo mundo é possível.
Feliz Natal





